David Liebman & Mário Laginha Novo Trio
Culturgest, Lisboa
27- Jun 2015
No âmbito da reunião anual da IASJ - International Association of Schools of Jazz, que este ano se realiza em Lisboa, o veterano saxofonista David Liebman propôs-se actuar com um grupo português. A organização do evento, Hot Clube de Portugal com a Universidade Lusíada, sugeriu o encontro em palco de Liebman com o Mário Laginha Novo Trio. O mais recente projecto do pianista conta com a peculiaridade de incluir uma guitarra portuguesa, o que acrescenta à música um maior grau de originalidade e uma dose extra de “portugalidade”.

O trio luso junta ao piano de Mário Laginha a guitarra portuguesa de Miguel Amaral e o contrabaixo de Bernardo Moreira. O disco de estreia do grupo, Terra Seca, mostra uma música indefinida, a meio caminho entre o jazz e o fado, que abarca uma mescla alargada de referências, mas é, acima de tudo, marcadamente portuguesa. Se à partida o trio português já tem o desafio de trabalhar a convivência instrumental e a respectiva articulação harmónica (sobretudo na relação entre piano e guitarra portuguesa), a junção de um instrumento adicional ameaçava tornar o desafio ainda mais complexo.

© Márcia Lessa

Os músicos não tiveram muito tempo para ensaiar, pelo que a integração poderia não ser muito fácil, mas a qualidade técnica e flexibilidade dos músicos envolvidos prometia ultrapassar eventuais dificuldades. O concerto arrancou apenas com o Novo Trio, que entrou em palco sem Liebman, e começou por interpretar temas sem a presença do convidado, apresentando com fidelidade às gravações aquela música que já lhes conhecíamos. Só mais tarde (três músicas depois) entrou Liebman, alternando entre o saxofone tenor e o saxofone soprano.

© Márcia Lessa

O histórico saxofonista, que integrou as bandas dos gigantes Miles Davis e Elvin Jones, apresentou no grande auditório da Culturgest a sua classe habitual, explanando o seu sopro dinâmico e inventivo, mesmo sem puxar demasiado. Laginha desfilou a sua versatilidade no Steinway & Sons, Moreira foi um permanente esteio com o contrabaixo. Amaral, na guitarra portuguesa, oscilou entre momentos de grande protagonismo com fases de menos visibilidade.

Liebman foi obrigado a adaptar-se à dinâmica do grupo, interpretando temas do trio que fogem à natureza jazzística mais pura. Por outro lado, também o grupo nacional teve de sair da zona de conforto – o trio foi forçado a tocar standards, o que, sendo algo banal para Laginha e Moreira, foi uma situação verdadeiramente inédita para a guitarra portuguesa de Miguel Amaral.

© Márcia Lessa

Embora nem sempre perfeita, a ligação entre o Novo Trio e Liebman foi globalmente bem conseguida, chegando mesmo alcançar alguns pontuais momentos de brilhantismo. Porém, sobretudo nos momentos mais eminentemente jazzísticos, a guitarra portuguesa acabava por ficar mais escondida, remetida a um papel quase decorativo.

Tendo estado silencioso durante todo o concerto (foi Mário Laginha que foi fazendo as apresentações ao longo do concerto), antes do último tema David Liebman acabou por se dirigir ao público, anunciando como tema final uma homenagem a Ornette Coleman - o saxofonista morreu há cerca de duas semanas. O concerto fechou com uma curiosa interpretação da imortal “Lonely Woman”, com Liebman em flauta.
· 29 Jun 2015 · 15:15 ·
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com

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