Earth / Filho da Mãe
Musicbox, Lisboa
27- Mai 2015
Há mais em comum entre o dedilhar de Filho Da Mãe e o compasso lento e absorto em si próprio de Dylan Carlson do que aquilo que julgamos. Ambos parecem remeter-nos para um deserto infinito e tipicamente americano, onde cada homem luta por si, prisioneiro do sol e da sede. Ambos são capazes de nos assombrar, quer o peso se abata sobre o Musicbox, quer a melodia ressoe no éter. Ambos possuem uma técnica única, facilmente identificável pelos mais atentos. Ao primeiro, coube aquecer (ainda mais) a noite; ao segundo, apenas provar que isto de se ser uma lenda não acontece por acaso.

Assim que Rui Carvalho abandona o palco e após a nova fornada de confirmações para o Amplifest, eis que os Earth se estreiam finalmente em Lisboa, transportando consigo mais de vinte anos de história Sabbathica, o doom levado ao seu extremo - arrastado, porventura psicótico e narcótico, o riff enquanto meditação. Das primeiras experiências musicais, as mesmas que geraram mastodontes como os Sunn O))), não se ouviu nada. Não que fosse preciso, sendo Primitive And Deadly o bom disco que é. E é por aí que se começa, tal como começa a bíblia: com a serpente que vem.

Como não poderia deixar de ser, foi a partir de Primitive And Deadly que os Earth construíram este concerto, e foi com esses temas que os braços dos presentes se ergueram no ar, e as suas cabeças oscilaram metronomicamente, qual maré de metal. Sobrou uma leve surpresa, ao mesmo tempo o momento mais acelerado: "High Command", retirado de Pentastar..., álbum de 1995, que deixou para trás hora e pouco de câmara lenta e decidiu pôr um pouco de fast forward. Poucas palavras importam: os Earth estiveram ali à nossa frente, nós que julgávamos serem eles um mito.
· 01 Jun 2015 · 20:34 ·
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

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