Grouper
Teatro Maria Matos, Lisboa
03- Mai 2015
Com uma carreira já longa - parecendo que não, Liz Harris já vai com uma década de trabalho e mais de uma dúzia de edições (entre álbuns, EPs e singles) - Grouper alcançou a aclamação universal com o mais recente disco, Ruins. Gravado em Aljezur em 2011, no âmbito de uma residência artística promovida pela ZDB, o disco conquista pela simplicidade desarmante, entre a voz, as pinceladas de piano e, ao fundo, os zumbidos dos bichos do campo.

A música desse disco Ruins terá sido o principal motivo que fez o Teatro Maria Matos (concerto organizado em parceria com a ZDB) esgotar com meses de antecedência. Foi esse disco que convenceu o público, seria essa a música que o público queria ouvir, mas não foi esse o espectáculo que Liz Harris mostrou em Lisboa. Desde logo, faltou o piano: é esse o instrumento central de Ruins, mas não apareceu no Maria Matos; no palco havia apenas guitarra, sampler/gravações e microfone para a voz.

© José Frade

Contudo, a ausência do piano não foi o único problema: o som estava ainda demasiado baixo, a voz quase não se ouvia. Percebemos a intenção, na folha de sala escreveu-se “cerimónia íntima”, mas a diminuta amplificação deixava a música algo afastada de quem a queria ouvir bem, acabava por obrigar o público a um esforço de concentração suplementar, desnecessária. O público, esse, cumpriu o seu papel na perfeição: além de ter esgotado a sala, revelou uma postura educada, mantendo um silêncio reverencial durante todo o concerto – excepção apenas para aplaudir, timidamente, entre cada música.

© José Frade

A americana foi desfilando canções, sempre com a guitarra como elemento central, uma guitarra nebulosa, juntando-se alguns sons pré-gravados e a voz quase escondida. Em cima do palco Liz Harris quase não se via, oculta na escuridão; numa tela gigante era projectada uma sequência de estranhas imagens vídeo. A voz de Liz, ténue, ia sendo dissolvida nas melodias, nos esboços da guitarra, nos sons de fundo - durante uma boa parte do concerto, foi o som da chuva e trovoada que encheu a sala. Para o final Harris abandonou a guitarra e ficou a remexer num emaranhado de sons pré-gravados, uma espécie de drone prolongado que marcou a parte final da actuação.

Grouper tinha acenado com as pianadas melancólicas de Ruins, mas acabou por nos trazer outra coisa. A desilusão foi inevitável.
· 05 Mai 2015 · 11:06 ·
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com
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