Ty Segall
Lux, Lisboa
25- Out 2014
Chega-se atrasado ao Lux. Futebolisticamente feliz, mas atrasado nonetheless, tendo dado jeito que a mudança da hora tivesse ocorrido às 22h, pelo fuso horário de Kiribati ou segundo a velha máxima de que o Natal e a hora de inverno são quando um homem quiser. Daí que não se possa dizer muito acerca dos J.C. Satàn, banda francesa com impecável sotaque brit que fez a primeira parte do concerto de Ty Segall - andando em tour com este - e que usa o noise rock como uma arma. Vemo-nos outro dia?

© Luís Martins

Quanto a Ty Segall propriamente dito, pode aparecer-nos assim à frente quando quiser, com ou sem um Manipulator que volte a reavivar essa chama imensa que é o rock. Anunciados como sendo provenientes de Júpiter, pelo manager e mestre de cerimónias Jimmy Longhorn, qual cowboy da stand-up comedy, Ty Segall e demais comparsas incendiaram como há muito não se via o local mais emblemático da Lisboa nocturna. Para isso contaram com uma hora e meia de excelentes canções, quase todas elas retiradas deste seu último registo discográfico, abrindo com a que dá nome ao disco.

© Luís Martins

© Luís Martins

Este "incendiaram" é, claro, metafórico, pois nem o Lux é uma Igreja susceptível de se praticar tal acto nem nenhum dos muitos jovens que encheram a discoteca entrou munido de um cocktail molotov (tanto quanto se pôde perceber, só de bebida caseira e erva das Caldas), mas que fizeram por isso, fizeram: não houve um único minuto em que não existisse um momento de crowdsurf ou em que não se abrisse um círculo no meio para que todos os fantasmas da vida comum pudessem ser afastados por breves instantes que fossem, espancando de forma alegre o vizinho ou abraçando o hedonismo de quem vive com o riff na veia. Nem mesmo nas canções Segallianas mais dadas ao carinho, ao amor ou ao sexo, como "The Singer", houve qualquer espécie de acalmia. Mais do que um enorme concerto dado pela banda, que esteve sempre impecável e em sintonia com todos os presentes, foi um enorme concerto provocado pelo público. A noite pode ter sido de Segall e compinchas, mas o mundo é destes últimos.
· 27 Out 2014 · 15:38 ·
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
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