Rock in Rio Lisboa
Parque da Bela Vista, Lisboa
29-01 Jun 2014
DIA 3 |
Sem música que nos valesse - não se pode chamar "música" ao homicídio a decorrer na chamada "rock street", onde se escutou uma versão horripilante de "House Of The Rising Sun" - o terceiro dia do Rock In Rio começa na famigerada tenda VIP, cujo acesso foi concedido à imprensa por escassos minutos para que se pudesse assistir in loco à entrega da chave da cidade do rock a representantes da MGM, que acolherão em Las Vegas a primeira edição do festival em solo norte-americano, momento pontuado pela presença dos organizadores e do presidente António Costa, com direito a pose e sorrisos falsos no final para que o negócio não escorra pelas mãos. É política, e também ela está presente no Rock in Rio. Siga a marinha.
A vontade de encher o sangue com o mínimo indispensável de adrenalina obrigou a seguir por entre corpos e junkies até o mais perto possível do palco principal, para sentir a força bruta dos Queens Of The Stone Age, que tocariam dali a pouco, findo o concerto dos Capital Inicial (que são, essencialmente, os Tara Perdida brasileiros, com tudo o que de mau isso acarreta). Assim sendo, sobre Blood Orange, que se apresentariam no palco Vodafone pelas 20h, apenas o meu excelso fotógrafo tem algo a dizer. Palavras dele:
«Depois de por cá ter passado enquanto Lightspeed Champion, num memorável Clubbing em que abriria a sala Suggia e a noite para três então também debutantes no nosso país (Young Marble Giants, Vampire Weekend e These New Puritans), Dev Hynes regressou a Portugal pela mão (e bolsos largos) da família Medina. Trace-se um paralelismo e perdoe-se a escala: pouco mudou desde 2008. O ex-Test Icicles, que se apresenta no Rock in Rio agora como Blood Orange, recebeu por parte do público praticamente o mesmo desprezo de antes. Por ignorância, ou apenas por estarem presos nas filas para os sofás insufláveis, para a enorme roda gigante, numa qualquer aula de zumba ou a tirar selfies com o palco principal como pano de fundo (distracções válidas como outra qualquer, apenas menos gratificantes que uma sopa ou uns enchidos na zona de imprensa). Lamentável.
Aquele que outrora ostentara uma t-shirt de Burzum trouxe ao palco secundária uma indumentária muito pouco black metal, ao apresentar-se impecavelmente vestido com calça de seda branca e a bela da meia branca a fazer a (des)necessária companhia à sandália de pele. Fez-se acompanhar por um punhado de excelentes músicos, e ele próprio ora gingava com o microfone em riste ora rapidamente dedilhava as cordas da guitarra naquela mescla funk/soul que faria agitar um mar de corpos se por acaso esses por lá se encontrassem... Acompanhado por duas belas cantoras (há que citar Marco Paulo: teríamos dois amores), uma loira, outra morena, a primeira vestida com um casaco malhado no qual o Yin-Yang imperava nas costas, e com umas leggings de renda branca que fariam corar muita irmã de Terras de Vera Cruz por esse festival fora, era naturalmente mais extrovertida, puxando pelo público sempre que podia; ao contrário da sua irmã mulatinha, corpinho delineado, foxy lady, ou melhor: uma Pam Grier/Foxy Brown da Bela Vista, primeiro num jeito tímido, mas que com o passar dos minutos lá foi aquecendo até retrair as garras, tirando o casaco e mostrando então os abdominais definidos ao qual juntou um movimento de ancas invejável. Enfim, se em nada foram iguais, difícil será também tecer uma consideração definitiva de qual gostámos mais.
E a música? Bem, isso é o que menos interessará nesta feira das vaidades/festival, mas se houve momento marcante foi a notória falta de volume no saxofone em "Uncle Ace", penúltima canção do concerto - acabariam com "Time Will Tell" -, e a par de “Chamakay” a música mais marcante de Cupid Deluxe, último registo de Devonté Hynes. Blood Orange mereciam mais, bem mais. A verificar numa próxima oportunidade que se espera breve. It is what it is.»
Se estas palavras contam tudo o que precisávamos de saber sobre uma actuação de r&b com travo indie, é impossível descrever o concerto dos QotSA sem utilizar palavrões - desde já pedimos desculpa aos leitores mais sensíveis. Um dos quais seria, naturalmente, "caralho": ora o de Josh Homme, que nos faz repensar a nossa orientação sexual, ora um "caralho" acompanhado pelo artigo possessivo "do", que descreve essencialmente a actuação dos norte-americanos, ou até mesmo um "caralho" onde juntar um amargo "filhos da puta do", a descrição possível do público adolescente que havia acampado nas filas da frente para assistirem a um concerto de Linkin Park em pleno 2014, onde aqui e ali se vislumbravam as tremendas faltas de respeito do costume pelos grandes nomes do rock que aqui e ali vão adornando festivais mais orientados para as massas: braço cruzado, ar indolente, frases como espero que não me filmem para que a minha mãe não me veja a fumar, ou mesmo cumprindo a ignomínia maior que é sentar no chão e aguardar que este "barulho" passe por completo. As câmaras de gás de Auschwitz escolheram os alvos errados.
Escrever sobre os Queens Of The Stone Age é escrever sobre um dos últimos grandes bastiões do puro rock n' roll. Nem a ternura evidenciada por Homme durante grande parte do concerto, parecendo querer abraçar a audiência inteira e provocando um momento mágico quando impeliu toda a gente a ligar as luzes dos seus telemóveis, pirilampos perdidos no negrume, impediu que os encarássemos - como encaramos sempre - como imperadores do riff sujo e da pancadaria. Pancadaria? Houve bons momentos, curiosamente até provocados por fãs dos supra-citados Linkin Park, de quem esperamos que dentro de alguns meses repensem seriamente o seu gosto. "No One Knows", quase a fechar, foi claramente o momento mais agressivo - já que a indiferença é quase impossível. Foi-se tabaco e isqueiro no meio do mosh, um jovem providencia imediatamente um de reserva: bom miúdo, o Eduardo. Claro que não vai ler este texto, mas fica a ressalva. Fora os graves problemas no som ao início (meio vergonhoso...) os QotSA elevaram a fasquia no que a concertos no Rock In Rio diz respeito. Mas continuem a bajular os chatos dos Stones que é tranquilo. Só faltou mesmo uma "Feel Good Hit Of The Summer" para a devastação ser total...
A vontade de encher o sangue com o mínimo indispensável de adrenalina obrigou a seguir por entre corpos e junkies até o mais perto possível do palco principal, para sentir a força bruta dos Queens Of The Stone Age, que tocariam dali a pouco, findo o concerto dos Capital Inicial (que são, essencialmente, os Tara Perdida brasileiros, com tudo o que de mau isso acarreta). Assim sendo, sobre Blood Orange, que se apresentariam no palco Vodafone pelas 20h, apenas o meu excelso fotógrafo tem algo a dizer. Palavras dele:
«Depois de por cá ter passado enquanto Lightspeed Champion, num memorável Clubbing em que abriria a sala Suggia e a noite para três então também debutantes no nosso país (Young Marble Giants, Vampire Weekend e These New Puritans), Dev Hynes regressou a Portugal pela mão (e bolsos largos) da família Medina. Trace-se um paralelismo e perdoe-se a escala: pouco mudou desde 2008. O ex-Test Icicles, que se apresenta no Rock in Rio agora como Blood Orange, recebeu por parte do público praticamente o mesmo desprezo de antes. Por ignorância, ou apenas por estarem presos nas filas para os sofás insufláveis, para a enorme roda gigante, numa qualquer aula de zumba ou a tirar selfies com o palco principal como pano de fundo (distracções válidas como outra qualquer, apenas menos gratificantes que uma sopa ou uns enchidos na zona de imprensa). Lamentável.
Aquele que outrora ostentara uma t-shirt de Burzum trouxe ao palco secundária uma indumentária muito pouco black metal, ao apresentar-se impecavelmente vestido com calça de seda branca e a bela da meia branca a fazer a (des)necessária companhia à sandália de pele. Fez-se acompanhar por um punhado de excelentes músicos, e ele próprio ora gingava com o microfone em riste ora rapidamente dedilhava as cordas da guitarra naquela mescla funk/soul que faria agitar um mar de corpos se por acaso esses por lá se encontrassem... Acompanhado por duas belas cantoras (há que citar Marco Paulo: teríamos dois amores), uma loira, outra morena, a primeira vestida com um casaco malhado no qual o Yin-Yang imperava nas costas, e com umas leggings de renda branca que fariam corar muita irmã de Terras de Vera Cruz por esse festival fora, era naturalmente mais extrovertida, puxando pelo público sempre que podia; ao contrário da sua irmã mulatinha, corpinho delineado, foxy lady, ou melhor: uma Pam Grier/Foxy Brown da Bela Vista, primeiro num jeito tímido, mas que com o passar dos minutos lá foi aquecendo até retrair as garras, tirando o casaco e mostrando então os abdominais definidos ao qual juntou um movimento de ancas invejável. Enfim, se em nada foram iguais, difícil será também tecer uma consideração definitiva de qual gostámos mais.
E a música? Bem, isso é o que menos interessará nesta feira das vaidades/festival, mas se houve momento marcante foi a notória falta de volume no saxofone em "Uncle Ace", penúltima canção do concerto - acabariam com "Time Will Tell" -, e a par de “Chamakay” a música mais marcante de Cupid Deluxe, último registo de Devonté Hynes. Blood Orange mereciam mais, bem mais. A verificar numa próxima oportunidade que se espera breve. It is what it is.»
Se estas palavras contam tudo o que precisávamos de saber sobre uma actuação de r&b com travo indie, é impossível descrever o concerto dos QotSA sem utilizar palavrões - desde já pedimos desculpa aos leitores mais sensíveis. Um dos quais seria, naturalmente, "caralho": ora o de Josh Homme, que nos faz repensar a nossa orientação sexual, ora um "caralho" acompanhado pelo artigo possessivo "do", que descreve essencialmente a actuação dos norte-americanos, ou até mesmo um "caralho" onde juntar um amargo "filhos da puta do", a descrição possível do público adolescente que havia acampado nas filas da frente para assistirem a um concerto de Linkin Park em pleno 2014, onde aqui e ali se vislumbravam as tremendas faltas de respeito do costume pelos grandes nomes do rock que aqui e ali vão adornando festivais mais orientados para as massas: braço cruzado, ar indolente, frases como espero que não me filmem para que a minha mãe não me veja a fumar, ou mesmo cumprindo a ignomínia maior que é sentar no chão e aguardar que este "barulho" passe por completo. As câmaras de gás de Auschwitz escolheram os alvos errados.
Escrever sobre os Queens Of The Stone Age é escrever sobre um dos últimos grandes bastiões do puro rock n' roll. Nem a ternura evidenciada por Homme durante grande parte do concerto, parecendo querer abraçar a audiência inteira e provocando um momento mágico quando impeliu toda a gente a ligar as luzes dos seus telemóveis, pirilampos perdidos no negrume, impediu que os encarássemos - como encaramos sempre - como imperadores do riff sujo e da pancadaria. Pancadaria? Houve bons momentos, curiosamente até provocados por fãs dos supra-citados Linkin Park, de quem esperamos que dentro de alguns meses repensem seriamente o seu gosto. "No One Knows", quase a fechar, foi claramente o momento mais agressivo - já que a indiferença é quase impossível. Foi-se tabaco e isqueiro no meio do mosh, um jovem providencia imediatamente um de reserva: bom miúdo, o Eduardo. Claro que não vai ler este texto, mas fica a ressalva. Fora os graves problemas no som ao início (meio vergonhoso...) os QotSA elevaram a fasquia no que a concertos no Rock In Rio diz respeito. Mas continuem a bajular os chatos dos Stones que é tranquilo. Só faltou mesmo uma "Feel Good Hit Of The Summer" para a devastação ser total...
· 05 Jun 2014 · 23:14 ·
Paulo CecÃliopauloandrececilio@gmail.com
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