Teho Teardo & Blixa Bargeld
Teatro Maria Matos, Lisboa
12- Mar 2014
O nome de Blixa Bargeld foi ganhando fama a bordo dos Bad Seeds de Nick Cave, mas foi sobretudo ao leme dos Einstürzende Neubauten que construiu uma notável império sonoro pós-industrial. O italiano Teho Teardo tem um percurso menos exuberante, mas conta com alguns trabalhos dignos de nota, como por exemplo uma colaboração com o violoncelista Erik Friedlander. Juntos, Blixa e Teho, produziram o disco Still Smiling, editado no ano passado. Foi esse disco que deu o mote para o concerto no Maria Matos.

© José Frade

No palco do Teatro Maria Matos, plateia esgotada, começaram por subir ao palco apenas três pessoas: Blixa Bargeld (na voz), Teho Teardo (instrumentação, efeitos) e Martina Bertoni (violoncelo). Todos de preto, até o violoncelo (só mesmo a tshirt bordeaux de Teardo destoava). A voz de Blixa - alternando entre italiano, alemão e inglês – colava-se sobre o fundo instrumental, que integrava a produção de Teho em tempo real com algum material pré-gravado. A isto somava-se ainda o violoncelo de Bertoni, que acrescentava uma camada extra de intensidade dramática. A meio do concerto entrou em palco o quarteto Lopes-Graça, quarteto de cordas nacional que substitui o The Balanescu Quartet que toca no disco.

O som da sala parecia algo desequilibrado, com a voz demasiado elevada em relação aos restantes – algo que não acontece no disco, mais nivelado. Mas este acabou por não ser um factor determinante, a noite ficou sobretudo marcada pelas boas interpretações. Pelo palco passaram alguns dos temas que integram o disco Still Smiling, como “Axolotl”, “Buntmetalldiebe” (sobre ladrões de metais) ou “Come up and see me” (bela no seu desespero).


© José Frade

Um dos momentos mais marcantes foi mesmo a homónima “Still Smiling”, com a voz de Bargeld a dizer “I’m still smiling” em contraste claro com a própria expressividade e o sentimento da música. O concerto viveu sobretudo nessa toada negra, também em proximidade com a sonoridade dos Neubauten. Pelo meio foi ainda tocado um tema de Caetano Veloso, “The Empty Boat” (escolha pouco óbvia, do disco “Caetano Veloso” de 1969).

Não faltou o encore que contou com vários temas, entre eles “A quiet life”, música para um filme sobre um mafioso retirado que se muda para a Alemanha e abre uma pizzeria (“Una Vita Tranquila”), ou a estranhíssima “Defenestrazioni”. Entre o canto, a declamação e o pontual grito agudo (a lembrar Gollum d’O Senhor dos Anéis), Blixa fez na perfeição o seu papel de crooner das trevas. O silêncio é sexy, mas alguma música pode sê-lo ainda mais.
· 13 Mar 2014 · 12:14 ·
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com

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