Michael Gira
Passos Manuel, Porto
04- Mar 2014
À entrada do Passos Manuel dizia-se entre dentes que iria ser uma noite fofinha. Nada mais errado. A verdade é que mesmo com uma guitarra acústica nas mãos, Michael Gira não sabe ser menos do que muitíssimo intenso. Mesmo distante do caos sonoro dos Swans, Gira é aquele cowboy solitário com três mãos cheias de canções no fio da navalha; no vermelho; no limite – e sobre o limite – da condição humana.

© Jorge f. da Silva

O Passos Manuel encheu para ver Michael Gira apresentar um conjunto de canções muitas vezes “feias ao olhar”, em “estado bruto”, difíceis de digerir. Entregues sem muitas palavras pelo meio, umas atrás das outras, sem espaço nem tempo para contemplação. “My true body” e “Song for my father”, entre outras, destacaram-se pela sua intensidade, pela força da interpretação.

© Jorge f. da Silva

Com o volume sempre a pedir licença ao PA para ir um pouco mais além, Michael Gira fez o que não é fácil de fazer: retirar tanta emoção de seis cordas mais as respectivas vocais. E criou uma ligação directa entre público e artista sem precisar de passar a mão pelo pelo de todos. Mesmo dizendo a verdade, nua e crua; mesmo fugindo quase sempre da beleza mais directa, mesmo mostrando as áreas mais cinzentas da realidade humana. Não há muito mais a dizer para além de que foi um prazer partilhar aquela noite com Michael Gira.
· 10 Mar 2014 · 15:04 ·
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
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