Out.fest - Lee Gamble / Richard Pinhas / Mohn
Auditório Municipal Augusto Cabrita, Barreiro
11- Out 2013
Caminhar pelo Barreiro é uma indução ao estado de espírito ideal para estar no Out.fest. Gosto da vossa cidade, atrai-me o ar falsamente abandonado dos vossos prédios, o clima mais fresco que o de Lisboa e acima de tudo as pessoas que povoam, aqui e ali as ruas. Ao mesmo tempo, a cidade parece estar tão à margem como a música que por ali se ouviu – e não há problema nenhum com isso. De tal forma que se sucederam as salas esgotadas, sentiu-se o espírito aberto e aproveitou-se tanta gente boa para discorrer ideias (nem sempre tão boas). Facto é que o Barreiro tem uma vida própria e, se ainda não o é, espero que caminhe para um estatuto de pináculo incontornável no campo da música exploratória internacional.

Mohn © José Miguel Silva

Mas teçam-se agora loas aos Mohn, dupla alemã, de pose austera, que parece tão pouco querer saber do que pensamos da música deles que simplesmente lhe chamam ‘nobience’. Faz sentido, vistos ali no palco, que se recusem a atribuir um ambiente específico à sua música. As texturas da dupla pautam-se pela densidade e pelo negrume, um sentimento acicatado ao longo dos quase cinquenta minutos de concerto pelas projecções vídeo intrigantes. Pontualmente, a luz trespassa o negrume (vide Ambientôt ou Tiefental, malha pecado, perigosamente contagiante) e percebemos os Mohn: perdura neles a tradição teutónica da cerebralidade, onde o ritmo persiste e insiste – mesmo que no limite do contratempo. A partir daí, fica aberto para Wolfgang Voigt e Jörg Burger serem mestres: na construção e desconstrução de harmonias e melodias e na gestão da tensão expectativa contidas em cada exercício. Mestres na arte de (fazer) viajar, mestres na arte de fazer pensar. Voltem depressa!

Richard Pinhas © José Miguel Silva

Richard Pinhas trouxe consigo o peso de uma história que leva mais páginas do que aquelas que alguém seria capaz de escrever - é mais fácil e recompensador gravá-las. O francês conta com quase duas dezenas de discos (entre splits, colaborações e LP) e desde 1977 que se tem sabido metamorfosear, crescendo entre a electrónica e a guitarra. No Auditório Municipal Augusto Cabrita ficou-se pela última, um pouco à semelhança do que fez Oren Ambarchi um dia antes. Pinhas serpenteou caminho por entre camadas, loops e feedbacks – sempre alto, muito alto. E se valeu a pena pela forma como soube fazer o Auditório levitar à boleia da leveza atmosférica das suas cordas, também valeu pela forma como nos chicoteeou sempre que a distorção entrava em cena.

Lee Gamble © José Miguel Silva

Coube a Lee Gamble a sempre difícil tarefa de abrir a noite, ainda mais dificultada por se ver diante de um auditório sentado. Não se coibiu, no entanto, de dar um banho de imersão de frequências baixas e graves bojudos. Dos vinte minutos que ainda vislumbrámos, sentiu-se o mantra de vibração, quase subsónico, e deslindava-se uma batida quebrada e quase sufocada. Já tínhamos ganho a viagem logo ali, mas apostamos que aquele set, quatro horas mais tarde, numa sala mais pequena, nos ia transportar para um estado meditativo (quase) inquebrá
· 22 Out 2013 · 00:10 ·
António M. Silva
ant.matos.silva@gmail.com

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