Sonic Blast Moledo
Praia do Moledo, Moledo
24- Ago 2013
Deixem que o sol se ponha e Moledo enche-se de dourado, o mar revolto a proporcionar um espectáculo magistral, filas e filas de autocaravanas dormitando ao poente, esplanadas cheias de classe média, classe alta, estrangeiros, turistas ocasionais e - porque o Sonicblast ocorre por estas datas - festivaleiros algo deslocados do cenário, tal o negrume das suas vestimentas; no entanto, são estes quem mais enchem a pequena localidade de vida, descendo e subindo a pequena rua, acampando no espaço minúsculo que lhes é destinado, caindo num torpor alcoolizado ou gritando bem alto, mãos com dois dedos esticados em ode ao diabo, frases diversas que deixam crer que o rock nunca morrerá; o Sonicblast repetiu-se e parece ter-se tornado num ponto de paragem obrigatória antes que o fim das férias nos deprima. Dividindo-se por dois palcos, este ano, o festival não desiludiu em absolutamente nada, porque as bandas convidadas fizeram por isso, porque o público não se deixou desiludir, porque estamos perante um dos pontos geográficos mais belos do país. Para o ano haverá mais, certamente, e mal podemos esperar.

Mas importa falar do que se passou a nível da música: coube aos vianenses Mother Abyss iniciar hostilidades com o peso que se reivindicava, bateria forte e um híbrido death/sludge que aqueceu ainda mais o recinto, razão pela qual muitos foram os que se voltaram a atirar para a piscina mal terminam o seu (óptimo) set, seguem-se-lhes os franceses Libido Fuzz, mais uma banda stoner em 2013, cuja sonoridade, embora aceitável, farta um bocado - já são demasiadas bandas a percorrer estes trilhos. Os Super Snail terminariam as actuações no espaço do centro cultural com uma música que, ao contrário do nome, não é nada lenta (n.a.: foda-se, nem acredito que fiz esta piada :facepalm:), electricidade algo indefinida mas divertida q.b. e que permitiu invasão de palco por parte de um certo ser metálico envergando uma t-shirt de Deicide, também conhecido por: o tipo que esteve a dar tudo em Moledo, desde as três da tarde até às três da manhã. Godspeed, onde quer que ele esteja agora.

Após pausa para jantar (que impediu que se visse o concerto dos Guerrera), somos brindados com uma enorme actuação dos barcelenses Killimanjaro, rock sem merdas com o patrocínio dos Black Sabbath, dos Mötorhead - especialmente no tema novo que apresentaram ao público - e da forte e feia riffalhada, daquelas que deixam uma pessoa a pensar a sério que este gajo só tem dezoito anos?, chapada de ajudou e muito à digestão rápida; digestão essa que teria sido interrompida, vomitada, arremesada em direcção aos Mars Red Sky, rock drogado sem piada absolutamente nenhuma e vocais choninhas que pareciam remeter para os Placebo. Muito resumidamente: sabemos que é mau quando estamos pedrados e nem assim puxa. Interesse zero no seu céu vermelho, interesse máximo no céu negro que se vislumbrava já, pontinhos brancos cintilando um olá aos The Machine, que se apresentaram sem a Florence e ofereceram uma jarda de rock meio garageiro, Rallizes Dénudés limpos por via do groove repetitivo e hipnótico, que acabam a estoirar um amplificador e a prolongar demasiado o seu set, ainda assim grandioso. Tal como o dos alemães Kadavar, porventura a banda que mais festivaleiros levou até Moledo, heavy metal do bom e do antigo, riffs demoníacos e um concerto para recordar durante muito tempo, naquela que foi a apresentação ao vivo de Abra Kadavar, disco de 2013 que merece forte rotação; pena foi ter faltado uma cover dos Smiths, já que a sua primeira editora se intitula (e tão bem que se intitula) "This Charming Man". Coube aos Unicornibot, já metade tinha abandonado o recinto, o momento eish-que-filha-da-puta-de-festa do festival, eles que também têm disco novo; os galegos trouxeram consigo uma forte armada de conterrâneos, os corninhos de alumínio que tão bem lhes conhecemos e um concerto brutal em que a matemática aplicada ao rock resulta em momentos tão dançáveis quanto headbangáveis ("os Equations da Galiza", diz-se). Um final apoteótico com uma enorme invasão de palco - que quase foi abaixo - deu por encerradas as festividades no que ao Sonicblast de 2013 diz respeito. Para o ano cá estaremos outra vez. Isto é uma promessa.
· 01 Set 2013 · 12:44 ·
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

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