Sei que estou a ficar velho quando uma simples directa me deixa derreado, quando já só consigo devorar meia pizza, quando demoro três dias a escrever um texto que em condições normais levaria um par de horas, quando o meu próprio bater do coração me hipnotiza, sempre o mesmo ritmo, acelerado, virtude do tabaco e do stress pós-licenciatura e do calor e das demais parvoíces que me assolam, mas não trocaria esta sensação por qualquer outra - afinal de contas, se não fosse este enorme medo de ficar velho, de ultrapassar os vinte e sete anos e perder-me para as adultices várias, nunca me poria num carro a caminho de Braga para assistir a concertos de bandas que já vi por várias vezes; relembre-se o On The Road e demais literaturas de estrada, romantize-se o que quer que seja, mas o facto é um só, que é o de nos entregarmos a estas brincadeiras não porque gostamos de ser jovens mas porque não queremos de todo envelhecer, e se ao menos o tempo pudesse parar, ou regressar, ou o que seja, a seguir a estas roadtrips viriam outras, e outras, e outras...


Texto sério, não? Que se foda o texto sério. A Coronado, essa família e grupo de amigos e bordel homoerótico nas horas vagas, encetou mais uma das suas famigeradas festas no passado sábado, na cidade de Braga, sob um sol de quarenta e poucos graus e o ritmo católico dos muitos sinos de igreja que a povoam - a sério, um em cada esquina? -, apresentando aos poucos que por lá se encontravam (ou, sejamos sérios: à tarde viram os concertos vinte gajos - pessoal das bandas - e um emplastro - oi) aquilo que nos têm para oferecer em termos musicais, essencialmente o rock e a electrónica aliada ao Gin da Morte e outras substâncias ilícitas e menos ilícitas, mas no caso de alguém ligado às autoridades estiver a ler este texto a última frase é mentira pois tudo o que se devorou por lá foi suminho de maracujá. Não só isso como houve igualmente espaço para verdadeiras guerras envolvendo pistolas de água, o chamado ajavardar. Era do calor.


E os concertos? A memória começa a atraiçoar-me, mas se bem me lembro DWARF e EGBO irromperam pelos lados mais experimentais pós-dubstep (para ser assim bué de técnico e conferir alguma seriedade a este texto, sem me aperceber que estou a falar miseravelmente na demanda de relatar o que por lá se passou), Sequin mostrou que continua a ser uma das melhores vozes que ouvimos por cá em muito tempo num concerto meio a correr já que se apresentava no Passos Manuel horas mais tarde, os Lydia's Sleep deram um óptimo show sem que o seu vocalista precisasse de partir um pé, RA mais uma vez escapuliu-se ao desejo dos presentes de tocar Smiths e nem sequer acedeu aos pedidos para tocar Löbo, houve uma aparição de um DJ piramidal, os Equations deram FINALMENTE um concerto com condições de som fantásticas - algo que não acontecia, sei lá, desde que os vi e me apaixonei por eles a primeira vez, no Milhões 2011 -, os Necromant puseram, tal como os Equations tinham feito, um senhor dos seus trinta ou quarenta anos a bailar no pátio, naquele que foi talvez o momento mais hilariante não-alcoólico da festa, e os Balão Dirigível infelizmente não vi (não perguntem onde fui), mas hão-de ter dado um concerto também ele bom porque no final apanhamos alguém a sair da black box proferindo um isto é só barulho, claramente demonstrando que não passa de um néscio que não merece o ar que respira. No final houve espaço para "Better Off Alone", tentativas vãs de me manter em pé e um merecido sono de quatro horas num hotel de uma ruela de Braga durante as quais um baixista que designaremos por "Iggy Pop do mathcore" irrompeu quarto dentro para uns quantos segundos de rebelião rock n' roll. Valeu tudo a pena, claro. Dos mitras a dançar às sete da manhã à porta de casa de DWARF à aparição aleatória de um DJ Ride na Galp do Pombal, esta roadtrip e esta festa tirou-me anos de vida; e por isso só posso estar grato à Coronado e a toda a gente bonita que lá faz acontecer. Siga para a próxima.