Filipe Raposo
Culturgest, Lisboa
07- Jun 2013
Uma apresentação de um jovem músico ao vivo, num espaço imponente como é o grande auditório da Culturgest, não é apenas uma aposta arriscada, poderá ser considerada uma ousadia. Apesar de já ter passado pelo mesmo palco, há cerca de ano e meio, Raposo apenas agora lança o seu segundo álbum na condição de líder, o seu primeiro disco a solo. Se em Janeiro do ano passado o pianista se fez acompanhar de dois trios (Carlos Bica & Vicky Fernandes; Yuri Daniel & Carlos Miguel), para a apresentação de First Falls, desta vez apresentou-se completamente sozinho em palco. A aposta no grande auditório para este concerto a solo acabou por não resultar, uma vez que apesar de algum público, a sala contava com muitos lugares vazios, deixando uma permanente sensação de vazio. Apesar da contrariedade, o pianista apresentou um concerto profissional, uma performance completamente alheia a factores externos à música.

O novo A Hundred Silent Ways é um manifesto individual, onde o pianista expressa a sua personalidade sem rede. Em concerto Raposo reproduziu os seus temas, que combinam a natural matriz jazzística, uma omnipresente dimensão clássica e uma recorrente raíz popular portuguesa. O pianista manifestou a intenção, à partida expressa no título do disco e do espectáculo, de trabalhar o silêncio. A música de Raposo sabe ter em conta esse silêncio, mas de uma forma geral é vibrante, com peso rítmico constante, deixando pouco espaço à contemplação que o título deixaria antever.

Poderemos ousar dizer que Raposo é herdeiro de outros dois pianistas lusos, ao combinar uma vertente cinemática (habitualmente associada ao malogrado Bernardo Sassetti) e um equilíbrio entre o cancioneiro popular e a improvisação (característica do pianismo de João Paulo Esteves da Silva). Para lá de referências, Filipe Raposo é já um pianista com uma identidade própria, personalidade afirmada, que fez bem em aguardar pela maturidade para gravar.

Entre temas originais e revisões e antigas canções populares, Raposo deu uma lição de elegância musical, casando sensibilidade e nervo. Finalizou a actuação com a interpretação, pessoal mas concisa, do clássico “Que o amor não me engana” de Zeca Afonso. A sala aplaudiu justamente.
· 11 Jun 2013 · 15:20 ·
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com
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