Os Passos Em Volta / The Glockenwise
Galeria Zé dos Bois, Lisboa
16- Mai 2013
Quando tanto se escreveu e se continua a escrever sobre a eterna juventude do rock, quando tantas loas se tecem a quem, ainda miúdo, decide pegar numa guitarra, formar uma banda e fazer barulho, quando a vitalidade do género depende grosso modo da sua renovação constante por parte das camadas mais tenras e quando para ver dois grupos - Os Passos Em Volta e os Glockenwise, bandas com uma idade média inferior à do plantel do Sporting - a Zé dos Bois se enche, sobretudo, de trintões ou mais, quase que dá vontade de dizer que os fãs de rock são um bando de pederastas. Mas tudo isto é verdade: estas guitarras, esta sujidade, estes ritmos são o elixir da eterna juventude, o lembrete diário aos velhadas de que o mundo muda mas o primeiro amor é para sempre. Double bill perfeita numa noite à qual só faltou a primavera.

Os Passos Em Volta © Rita Sousa Vieira

Os Passos Em Volta não têm disco novo, mas podiam ter; ainda que tenham parecido algo estáticos em cima do palco, recompensaram a sua própria falta de energia com a das guitarras, fuzz a abrir caminho noite dentro com uma mão cheia de temas novos - destaca-se o terceiro, que na setlist vem unicamente como "Mary", um glorioso arrastar eléctrico a lembrar Dinosaur Jr. e a espantar pela pujança do riff. Prevê-se que Os Passos estejam a trabalhar em qualquer coisa de mágico que suceda a Até Morrer; com os nervos em franja, resta-nos sossegar o espírito entoando "Fetra", que não é nova mas não podia faltar, bem alto.

The Glockenwise © Rita Sousa Vieira

No caso dos Glockenwise energia foi o que não faltou, especialmente na figura de Nuno Rodrigues, essa simpaticíssima pessoa que no final vai vender uma cópia de Leeches e acaba por a oferecer; e se Os Passos cantam que é só preciso ter bons amigos, ao quarteto de Barcelos isso foi coisa que não faltou e que valeu muitas e boas piadas à custa de um certo tesudo da distribuição. O mote era a apresentação do segundo registo dos Glockenwise (terceiro, contando com o "velhinho" EP homónimo), sendo que "Time To Go" e "Napoleon" foram as granadas principais, mas Building Waves, o tal que levantou ondas (como se não pudéssemos deixar de fazer esta piada) esteve igualmente presente com "Scumbag", hino para rockers inadaptados, "Local Song For Local People" e "Stay Irresponsible". Houve encore, claro, com direito a crowdsurf variado e pancadaria da boa em frente ao palco. Porque poucas coisas traduzem mais o espírito do que uma letra dos Ramones: the kids are losing their minds. E ainda bem. Nunca cresçam.
· 18 Mai 2013 · 16:31 ·
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

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