Luís Lopes & Jean-Luc Guionnet / Ode a William Burgess
Galeria Zé dos Bois, Lisboa
3- Abr 2013
Na passada quarta-feira, dia 3 de Abril, a Galeria Zé dos Bois apresentou duas formações de música improvisada na mesma noite: o duo de Luís Lopes e Jean-Luc Guionnet e o quarteto “Ode a William Burgess”. Se o duo já se tinha apresentado ao vivo em Lisboa, há dois anos na Culturgest (no ciclo “Isto é jazz?”), já o quarteto foi formado muito recentemente, tendo actuado numa mini-tour que passou por Porto, Santo Tirso e Barreiro e terminou em Lisboa, no aquário da ZDB.

“Ode a William Burgess” é um grupo dedicado à improvisação livre, reunido pelo contrabaixista Hugo Antunes, com Peixe (dos Ornatos Violeta) na guitarra e João Pais Filipe (bateria). Inclui ainda um trompetista, que nos dois concertos do norte foi Susana Santos Silva, nos dois concertos do sul foi Luís Vicente. O concerto do Barreiro contou ainda com um convidado especialíssimo, o histórico Carlos Zíngaro (violino).



O concerto do quarteto arrancou com o contrabaixo a desenvolver um pizzicato brusco, em simultâneo com o feedback controlado da guitarra de Peixe. Trompete e percussão foram entrando depois, tranquilamente, bem encaixados. A música do quarteto foi crescendo, entre os contributos subtis dos vários elementos, até alcançar momentos de elevada tensão. Ao segundo tema, mudaram-se os papéis: da guitarra saía um som cristalino, contrastando com os efeitos electrónicos saídos do contrabaixo.

O quarteto trabalhou na união das sugestões individuais que iam surgindo, juntando pontas soltas, destacando-se os diálogos entre trompete e guitarra, momentos de enorme entrosamento. O contrabaixo de Antunes, que ia alternando entre arco e pizzicato, ia lançando muitas ideias e provocações, acabando por se revelar o principal propulsor do quarteto. A bateria de Pais Filipe destacou-se pela qualidade e detalhe que imprimia em cada intervenção, especialmente nos momentos de maior acalmia.



Se a primeira parte da noite ficou marcada pela profusão de ideias, a segunda metade, com a dupla Lopes & Guionnet foi mais concisa – mas não menos interessante. Luís Lopes, que passou todo o concerto sentado, começou com a guitarra ao colo, tocada com arco, bem complementada pelo saxofone alto de Jean-Luc Guionnet (que passou o concerto todo de pé). Esse início foi marcado por um som contínuo, quase-drone, meticulosamente trabalhado numa lenta evolução.

A guitarra de Lopes foi alvo de diferentes técnicas, ao longo do concerto: num segundo momento, dedicou-se a um fraseado tipicamente jazzístico, umaabordagem pontilhística que chocava com o som planante de Guionnet. Numa terceira fase, Luís Lopes pressionou as cordas com objectos, extraindo sons e ruídos, entre o industrial e o noise – terá sido este o momento mais interessante, contribuindo também a maior intensidade do sopro de Guionnet, que incluiu momentos de respiração circular. Lopes fecharia depois o concerto numa versão mais rockeira. Entre a diversidade de ideias musicais do quarteto e a intensidade da dupla, a ZDB acolheu mais uma noite de música memorável.
· 07 Abr 2013 · 02:28 ·
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com

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