Alva Noto
Teatro Maria Matos, Lisboa
27- Nov 2012
Carsten Nicolai (Alva Noto, Diamond Version, Signal, etc.), co-fundador da Raster-Noton (fusão de duas editoras germânicas especializadas em música electrónica minimal, a Rastermusic e a Noton.archiv für ton und nichtton), a par de Olaf Bender (Byetone, Diamond Version, Signal, etc.) e Frank Bretschneider (Komet, Produkt, Signal, etc.), destaca-se como um dos mais prolíficos expoentes daquilo que tomamos a liberdade de designar como "a sonoridade Raster-Noton", ou "o conceito Raster-Noton" num mais amplo sentido de experimentalismo audiovisual - a estética dos vídeos, o design gráfico dos álbuns-objecto, a linguagem computacional, o subtil traço retro-futurista, em suma toda uma geometria, toda uma linearidade obsessiva, como que "totalitária", ou a máquina a processar o código binário de um "IV Reich" metafórico (provocação gratuita, tal como se acusou o krautrock, na sua época, de derivação "fascista").

© Joana Cardoso

Por mais diversos que sejam os alter-egos criativos de Carsten Nicolai - Alva Noto, Diamond Version, Signal, Aleph-1, ANBB (parceria com Blixa Bargeld, espectro dos Einstürzende Neubauten), Cyclo. (em conjunto com Ryoji Ikeda), entre outros projectos, ao que se acrescem as colaborações em nome próprio com Ryuichi Sakamoto - há sempre elementos sonoros distinguíveis, uma linha autoral definida, a marca de água de um exímio produtor nascido no lado errado do Muro de Berlim, na antiga Alemanha de Leste. Mas é como Alva Noto que melhor o reconhecemos, até pela impressionante profusão de álbuns editados nos últimos 12 anos através desta denominação. Um longo percurso que fomos acompanhando com interesse e admiração, testemunhando a depuração sonora e visual de um conceito criativo que influenciou toda um nova vanguarda de projectos com o selo de qualidade da Raster-Noton: Atom™, Grischa Lichtenberger, Senking, Robert Lippok, Mark Fell, SND, CoH, Vladislav Delay, Pixel, NHK, Mokira, Byetone, etc.

© Joana Cardoso

Já o tínhamos visto ao vivo este ano, em Junho passado, no Sónar 2012 de Barcelona, no âmbito do projecto Diamond Version (Nicolai e Bender literalmente iluminados pelo japonês Atsuhiro Ito, que criou sons a partir de uma lâmpada, algo indescritível). Mas não pudemos deixar de comparecer no concerto de 27 de Novembro no Teatro Maria Matos, em Lisboa, para a reprodução em palco de um dos mais recentes e estimulantes discos de Alva Noto, "Univrs" (Raster-Noton, 2011). Um regresso às origens, após várias deambulações experimentais em torno de texturas ambientais e composições instrumentais, sobretudo os duetos com Sakamoto. Ao ponto de citar abertamente os subliminares Kraftwerk na melhor faixa do disco, "Uni Acronym", acompanhada em palco por uma estrutura visual arrebatadora. Foi o momento alto de um concerto curto mas incisivo, ao longo do qual Nicolai não comunicou sequer uma sílaba para além do estritamente essencial: a música e a imagem. Aliás, não esboçou qualquer expressão humana, nem mesmo durante o breve "encore" que culminou uma actuação irrepreensível, sem um único desalinhamento, pura "performance" maquinal. Respeito.
· 03 Dez 2012 · 01:34 ·
Gustavo Sampaio
gsampaio@hotmail.com
RELACIONADO / Alva Noto