Jack White
Coliseu dos Recreios, Lisboa
31 Ago 2012
Diante de nós está o autor do riff mais icónico desde que Kurt Cobain escreveu uma tal “Smells Like Teen Spirit”. Um nome que, porventura, mereceria ainda mais do que este Coliseu dos Recreios à pinha e a escaldar. Não está, tal como Cobain, livre de angústias. Mas as das letras de Jack White são de outra estirpe. Mais relacionadas com a guerra dos sexos, e os jogos amorosos. De resto, o antigo líder dos White Stripes é, dos pés à cabeça, um ícone. Magro, vestido de preto, com a cara bastante pálida, deixa transparecer, durante as quase duas horas de concerto, um entusiasmo palpável pela vasta obra que já possui. E, desde o início com “Dead Leaves And The Dirty Ground”, ao final inevitável de “Seven Nation Army”, passando por músicas de Raconteurs, Dead Weather, Danger Mouse e a solo, pôs o Coliseu aos gritos, saltos e demais manifestações de euforia.
A maior dúvida prender-se-ia em saber se teríamos direito a uma actuação das Peacocks ou dos Buzzards como banda de apoio. Os contemplados foram os segundos, e foram bem dignos de acompanhar Jack White. Equipados com vestimentas mais adequadas aos anos 30 do século passado, mais pareciam querer causar um motim numa qualquer velha juke joint ou salloon. O baterista, sobretudo, é um perfeito sucessor da forma como Meg White atacava a bateria, embora muito mais efusivo nos movimentos, chegando a saltar no banco, do que a über-cool baterista dos White Stripes. “Hotel Yorba” foi uma das canções em que mais se notou a presença da banda, com o violino a torná-la um hino hillbilly, recebida em delírio pelo público lisboeta.
Jack White pode não ter falado muito. Só que a verdade é que não precisou. Não falou, mas também não ficou, quase nunca, quieto. Sob uma simples luz branco-azulada, saltou entre guitarras (eléctrica e semi-acústica), e um piano ao canto do palco (magnífico em “Trash Tongue Talker”), às vezes na mesma canção. Mexeu as pernas em espasmos semi-desengonçados, qual híbrido de Nick Cave, Johnny Cash e Elvis Presley num só corpo possuído por alta voltagem. E sempre que cantou – veja-se casos como “Ball And Biscuit”, “The Hardest Button To Button” ou “Freedom At 21” – fê-lo como se as palavras se lhe antecipassem, e ele apenas tivesse tempo de lhe dar um último toque com os lábios antes que estas se lançassem para a atmosfera. Aqui não há contemplações, jogos dramáticos ou exibicionismos. Há urgência e guitarras que soam a uma unha negra de perder o controle. Jack domina os riffs distorcidos como se fossem touros que tentam invadir uma praça noise, mantendo viva a inconfundibilidade do seu som.
O encore, pedido com “aquele” cântico, iniciou-se com uma “Steady As She Goes”, dos Raconteurs, que muito ganhou com Jack White a substituir o mais maneirinho Brendan Benson na voz, e com tons muito mais eléctricos. E terminou, como já foi dito, com a música que pôs os White Stripes em todos os estádios de futebol a que mereciam ter chegado como banda. É curioso que Jack, de tão pálido, se assemelhe a Robert Smith quando o cabelo lhe cai sobre os olhos. Se a sua carreira e criatividade continuarem tão de vento em popa como até aqui, terá repertório para fazer, tal como o seu colega dos Cure, concertos de 3 horas. Esperemos que ainda esteja no início da exploração do seu talento.
A maior dúvida prender-se-ia em saber se teríamos direito a uma actuação das Peacocks ou dos Buzzards como banda de apoio. Os contemplados foram os segundos, e foram bem dignos de acompanhar Jack White. Equipados com vestimentas mais adequadas aos anos 30 do século passado, mais pareciam querer causar um motim numa qualquer velha juke joint ou salloon. O baterista, sobretudo, é um perfeito sucessor da forma como Meg White atacava a bateria, embora muito mais efusivo nos movimentos, chegando a saltar no banco, do que a über-cool baterista dos White Stripes. “Hotel Yorba” foi uma das canções em que mais se notou a presença da banda, com o violino a torná-la um hino hillbilly, recebida em delírio pelo público lisboeta.
Jack White pode não ter falado muito. Só que a verdade é que não precisou. Não falou, mas também não ficou, quase nunca, quieto. Sob uma simples luz branco-azulada, saltou entre guitarras (eléctrica e semi-acústica), e um piano ao canto do palco (magnífico em “Trash Tongue Talker”), às vezes na mesma canção. Mexeu as pernas em espasmos semi-desengonçados, qual híbrido de Nick Cave, Johnny Cash e Elvis Presley num só corpo possuído por alta voltagem. E sempre que cantou – veja-se casos como “Ball And Biscuit”, “The Hardest Button To Button” ou “Freedom At 21” – fê-lo como se as palavras se lhe antecipassem, e ele apenas tivesse tempo de lhe dar um último toque com os lábios antes que estas se lançassem para a atmosfera. Aqui não há contemplações, jogos dramáticos ou exibicionismos. Há urgência e guitarras que soam a uma unha negra de perder o controle. Jack domina os riffs distorcidos como se fossem touros que tentam invadir uma praça noise, mantendo viva a inconfundibilidade do seu som.
O encore, pedido com “aquele” cântico, iniciou-se com uma “Steady As She Goes”, dos Raconteurs, que muito ganhou com Jack White a substituir o mais maneirinho Brendan Benson na voz, e com tons muito mais eléctricos. E terminou, como já foi dito, com a música que pôs os White Stripes em todos os estádios de futebol a que mereciam ter chegado como banda. É curioso que Jack, de tão pálido, se assemelhe a Robert Smith quando o cabelo lhe cai sobre os olhos. Se a sua carreira e criatividade continuarem tão de vento em popa como até aqui, terá repertório para fazer, tal como o seu colega dos Cure, concertos de 3 horas. Esperemos que ainda esteja no início da exploração do seu talento.
· 02 Set 2012 · 13:04 ·
Nuno Proençanunoproenca@gmail.com