SonicBlast
Moledo
25 Ago 2012
Existem três coisas que nos fazem mexer: a fé, o amor e o rock n´ roll. Quando o SonicBlast se propôs juntá-las a todas, por via do cartaz que escolheu e pelo ambiente que oferecia, é natural que aqueles de nós que se vêem presos no marasmo existencial de uma cidade suburbana onde Deus vem para se aborrecer estivessem no pelotão da frente para marcar presença no que foi, sem querer entrar em demasiadas comparações, porque não o merece, uma espécie de mini-Milhões de Festa com direito a dia zero numa qualquer cave refundida em Barcelos, e com o bónus adicional de se ser alvo da amabilidade e da hospitalidade das gentes de Arcozelo (obrigado). Bem como a Trofa é uma rotunda, Moledo do Minho é uma praia, mas isso não impediu a pequena vila de ser grande durante vinte e quatro horas.

Chegou-se cedo ao recinto, mas uma curta saída para trincar algo e mirar a paisagem impediu que se visse o concerto inteiro dos Gesso, embora possamos dizer que os quinze minutos que tivemos de fuzz do trio de Santo Tirso tenham sido um belo presságio e óptimo cartão de boas-vindas. O primeiro sinal de que haveria algo por descobrir neste festival surgiu com os Freeloader, banda que conta com dois elementos dos Mr. Miyagi. O rock dos Freeloader é simples, mas, a julgar pelo bastante público que se juntou em frente ao palco, eficaz; é certo que Vitorino rir-se-ia às gargalhadas com as letras algo nonsense, mas o rock n´ roll não é nem tem que ser literatura. Perguntem-se apenas: houve riffs porreiros? Se sim, então valeu a pena.

Já com os Equations esse mesmo público decidiu ir dar umas braçadas na piscina - mesmo ao lado do palco -, comer uns grelhados e, claro, dedicar-se ao álcool. Foi deles o concerto mais ninguém-quer-saber deste festival e, tal como das últimas vezes em que os temos visto ao vivo, tendo-se já tornado uma sina maldita, tiveram problemas com o som. Ainda assim, a partir da explosão de "Coronado" o nível aumentou consideravelmente, destacando-se "Hero Cities Of The Soviet Union" (a tal que tem um vídeo com bonecada) e, a fechar, a enorme "Running With Scissors". Continuamos à espera de um concerto de Equations tão incrível como aquele, mítico, de 2011, que os deu a conhecer a meio mundo. Seguiram-se-lhes os Killimanjaro e o regresso do público, que acompanhou da forma que soube o rock sentido do trio de Barcelos, aqui a apresentar o seu EP homónimo, tendo havido espaço, inclusive, para um tema novo, mais expansivo que o seu som habitual. Apesar das duas cordas partidas pelo vocalista/guitarrista José Gomes, ou talvez por causa disso, os Killimanjaro deram o melhor concerto da tarde, e daqui para a frente só terão espaço para crescer.

Motivos futebolísticos e alimentares não nos permitiram marcar presença nos concertos dos We Ride e dos Mr. Miyagi, mas perdoem-nos: somos apenas humanos. Estivemos, claro está, imperturbáveis na fila da frente, para os Black Bombaim. Turn off your mind, relax and float downstream: os concertos da banda Barcelense resultam sempre no mesmo, na impossibilidade de nos limitarmos a prestar atenção ao que fazem com guitarras e uma bateria. Fechamos os olhos e deixamos que o nosso corpo se mova por si, que o groove nos invada como se chutássemos cavalo com agulhas de seda. Donos e senhores do melhor álbum de 2012, os Black Bombaim não precisaram de se esforçar muito para dar um excelente concerto, até porque não os sabem dar menos do que isso. E ainda que a notícia do dia seguinte, o adiamento da sua estreia em Marrocos, nos tenha deixado com alguma tristeza, sabemos que o seu domínio por todo o globo é apenas uma questão de tempo. Palavras estas que se escrevem cheias de fé: visto que não podemos senão tê-la. Com Espanha a olhar-nos invejosamente de lá de cima, os Samsara Blues Experiment deram um concerto agradável q.b., num estilo blues pesado ao qual comummente se chama heavy metal, mas sem que tenhamos escorregado em sumo de oliva como costuma ser apanágio deste género. Os stoners Sungrazer fecharam o festival numa altura em que já havíamos dado espaço ao gin, e daí que tenhamos trocado a sua actuação por um mini-karaoke de Morrissey por parte de uma conhecida apresentadora de televisão. Mas é também por estes momentos épicos que marcamos presença em festivais, e o SonicBlast tem tudo para se afirmar e regressar em 2013, quem sabe ainda melhor. Até lá teremos, separadamente, bons momentos rock n´ roll, a fé nas bandas que o criam e o amor pelas pessoas com quem estivermos. Adeus, verão festivaleiro.
· 28 Ago 2012 · 14:45 ·
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com

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