Matthew Herbert
Casa da Música, Porto
08 Jul 2005
In all the controversies over what the causes of diversities might be, no one seem to have paid much attention to the factor in the environment that has the most obvious effect on any organism: food.
Michael Crawford & David Marsh
in The Driving Force: Food in Evolution and the Future
Não costumam estar directamente relacionadas, mas a comida e a música não são elementos assim tão dissociáveis. Quanto mais não seja porque cada uma delas pode ser a banda sonora para a outra. Matthew Herbert parece estar em acordo. Plat du Jour foi um parto complicado e demorado: dois anos de pesquisa e seis meses de gravação. Plat du Jour nasceu com o propósito de contar algumas das histórias secretas por detrás da comida, da alimentação. E para isso, Matthew Herbert serviu-se de sons provenientes de grãos de açúcar, trinta mil galinhas, quintas, água e dos esgotos de Londres. Transposto para o palco, Plat du Jour torna-se numa ainda mais original fusão da comida com a música, dos cheiros com os sons. E para isso, nada melhor do que ter uma chef de cozinha responsável por cozinhar alimentos cujos cheiros eram depois espalhados pela sala, através de duas ventoinhas colocadas estrategicamente por detrás da mesa onde se preparavam os cozinhados. Matthew Herbert começou por dizer que não é muito de dar explicações, mas que a primeira das faixas seria como que uma banda sonora para galinhas e ovos, ou seja, uma espécie de capoeira electrónica. Sim, porque Herbert é ainda - e depois do mais jazzístico Goodbye Swingtime - um artesão da electrónica.
A certa altura, os sons e os cheiros (de comida cozinhada live, de aromas vários, de café, de torradas) misturam-se no ar e sustentam aquilo que foi uma muito curiosa e inesperada actuação. Entretanto, numa tela, projectam-se imagens intimamente relacionadas com a comida e a alimentação: ora é o preparar de um pequeno-almoço para uma sessão publicitária, ora é um mágico que na sua cartola mistura os ingredientes mais estranhos. E esta última imagem mental é um pouco aquilo que Matthew Herbert concretizou na actuação da Cada da Música: como um mágico ou um maestro, o autor do apetecível Bodily Functions, guiou na perfeição uma banda onde se podia observar um baterista que utilizava utensílios no mínimo bizarros, numa bateria igualmente bizarra (imagine-se que num dos temas utilizou um water cooler, um daqueles garrafões imensos que costumamos associar aos escritórios importantes, como kick drum) e mais alguns músicos.
Outro dos highlights da noite esteve relacionado com maçãs. Sim, as centenas de maçãs distribuídas à entrada da sala. As maçãs que Matthew Herbert pediu que todos trincassem para que ele pudesse gravar o som que daí iria resultar. E assim foi. Um, dois, três, e todos trincam. Uma vez mais. Outra vez ainda, a terceira, com mais intensidade. Herbert contou também que no Reino Unido existem dois mil tipos de maçãs, mas que se continua a importar de locais como a Nova Zelândia e que ele próprio tem vindo a fazer gravações de pessoas a comerem maçãs. Mas por vezes é a água que se manifesta nas composições de Matthew Herbert, ou então um quase revivalismo de Bodily Functions bem expresso na mais movimentada “Celebrity”, com referencias a Beyoncé, vindas da voz feminina que dá vida à canção (“Celebrity” é, na verdade, a única canção de Plat du Jour em que a voz é utilizada). E há também referências políticas quando, já depois do encore, Matthew Herbert e a sua banda regressam para o último tema acompanhado por um vídeo onde primeiramente se mostra um piquenique para ninguém, para depois se mostrar um tanque de guerra que passa por cima da toalha e de todos os preparos colocados em cima dela. A mensagem política, essa, reside no facto de em cima daquela toalha de piquenique se encontrar uma fotografia emoldurada onde se podem ver Bush e Blair. Mas as mensagens não ficaram por aqui, pois Matthew Herbert havia ainda de fazer um apelo (“Please use local shops”) e uma dedicatória: a Londres, ao Iraque e ao Afeganistão.
Michael Crawford & David Marsh
in The Driving Force: Food in Evolution and the Future
Não costumam estar directamente relacionadas, mas a comida e a música não são elementos assim tão dissociáveis. Quanto mais não seja porque cada uma delas pode ser a banda sonora para a outra. Matthew Herbert parece estar em acordo. Plat du Jour foi um parto complicado e demorado: dois anos de pesquisa e seis meses de gravação. Plat du Jour nasceu com o propósito de contar algumas das histórias secretas por detrás da comida, da alimentação. E para isso, Matthew Herbert serviu-se de sons provenientes de grãos de açúcar, trinta mil galinhas, quintas, água e dos esgotos de Londres. Transposto para o palco, Plat du Jour torna-se numa ainda mais original fusão da comida com a música, dos cheiros com os sons. E para isso, nada melhor do que ter uma chef de cozinha responsável por cozinhar alimentos cujos cheiros eram depois espalhados pela sala, através de duas ventoinhas colocadas estrategicamente por detrás da mesa onde se preparavam os cozinhados. Matthew Herbert começou por dizer que não é muito de dar explicações, mas que a primeira das faixas seria como que uma banda sonora para galinhas e ovos, ou seja, uma espécie de capoeira electrónica. Sim, porque Herbert é ainda - e depois do mais jazzístico Goodbye Swingtime - um artesão da electrónica.
A certa altura, os sons e os cheiros (de comida cozinhada live, de aromas vários, de café, de torradas) misturam-se no ar e sustentam aquilo que foi uma muito curiosa e inesperada actuação. Entretanto, numa tela, projectam-se imagens intimamente relacionadas com a comida e a alimentação: ora é o preparar de um pequeno-almoço para uma sessão publicitária, ora é um mágico que na sua cartola mistura os ingredientes mais estranhos. E esta última imagem mental é um pouco aquilo que Matthew Herbert concretizou na actuação da Cada da Música: como um mágico ou um maestro, o autor do apetecível Bodily Functions, guiou na perfeição uma banda onde se podia observar um baterista que utilizava utensílios no mínimo bizarros, numa bateria igualmente bizarra (imagine-se que num dos temas utilizou um water cooler, um daqueles garrafões imensos que costumamos associar aos escritórios importantes, como kick drum) e mais alguns músicos.
Outro dos highlights da noite esteve relacionado com maçãs. Sim, as centenas de maçãs distribuídas à entrada da sala. As maçãs que Matthew Herbert pediu que todos trincassem para que ele pudesse gravar o som que daí iria resultar. E assim foi. Um, dois, três, e todos trincam. Uma vez mais. Outra vez ainda, a terceira, com mais intensidade. Herbert contou também que no Reino Unido existem dois mil tipos de maçãs, mas que se continua a importar de locais como a Nova Zelândia e que ele próprio tem vindo a fazer gravações de pessoas a comerem maçãs. Mas por vezes é a água que se manifesta nas composições de Matthew Herbert, ou então um quase revivalismo de Bodily Functions bem expresso na mais movimentada “Celebrity”, com referencias a Beyoncé, vindas da voz feminina que dá vida à canção (“Celebrity” é, na verdade, a única canção de Plat du Jour em que a voz é utilizada). E há também referências políticas quando, já depois do encore, Matthew Herbert e a sua banda regressam para o último tema acompanhado por um vídeo onde primeiramente se mostra um piquenique para ninguém, para depois se mostrar um tanque de guerra que passa por cima da toalha e de todos os preparos colocados em cima dela. A mensagem política, essa, reside no facto de em cima daquela toalha de piquenique se encontrar uma fotografia emoldurada onde se podem ver Bush e Blair. Mas as mensagens não ficaram por aqui, pois Matthew Herbert havia ainda de fazer um apelo (“Please use local shops”) e uma dedicatória: a Londres, ao Iraque e ao Afeganistão.
· 08 Jul 2005 · 08:00 ·
André Gomesandregomes@bodyspace.net
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