Yes
Coliseu, Lisboa
3 Nov 2011
Eu nunca fui do prog rock, eu já nasci depois do PREC. Na verdade nasci alguns anos depois do Verão Quente de 1975, comecei a ouvir música numa altura em que os dias gloriosos do prog já há muito tinham passado. Mas a curiosidade pela história do rock fez-me conhecer coisas como King Crimson (a “21st Century Schizoid Man” já era fixe antes do Kanye) e, apesar de alguma renitência, cheguei também aos Yes. Nessa altura piquei, por curiosidade histórica, alguns clássicos mais óbvios - Fragile, Close to the Edge, Tales from Topographic Oceans. Apesar de todas as reticências, foi essa mesma curiosidade histórica que me levou a ver os Yes ao vivo em 2011.

© Paulo Tavares

Mesmo tendo em conta todas as mudanças que a banda sofreu durante os 43(!) anos de carreira, os Yes contam com três membros do seu núcleo duro, em ligação permanente desde 1974: o baixista Chris Square, o guitarrista Steve Howe e o baterista Alan White. A estes juntam-se Geoff Downes (teclados, com ligação intermitente desde 1980) e Benoît David (na voz, a mais recente aquisição, apenas desde 2008). Esta tour europeia, que vai atravessar a Europa até meados de Dezembro, não se fica pela previsível viagem aos êxitos do passado, serve de promoção a um novo disco, o primeiro de originais da banda em dez anos de vida - Fly from Here (curiosidade extra: a gravação contou com a participação do Luís Jardim, sim aquele gajo do Ídolos, na percussão).

© Paulo Tavares

No Coliseu a banda começou morna, mas cedo mostrou as credenciais. Square, Howe e Downes são uma máquina oleadíssima, Howe é o chefe de pirotecnia (solos como já não se fazem) e a voz de David, apesar diferente de Jon Anderson, cumpre a sua parte (é só de mim ou aquela voz lembra o tipo dos Caravan?). Como estava previsto, o alinhamento foi alternando clássicos com temas novos. Dos novos, destacou-se a suite épica homónima “Fly from here”, para o bem e para o mal: por um lado o tema emula bem as características típicas da banda; por outro lado, abusa na duração (a sério, meia hora?). E pelo meio do concerto há espaço para um momento solo de Steve Howe, em pura dedilhação acústica.

© Paulo Tavares

Para o final fica guardado um pack de hits, desfilados de seguida. Essa secção começa em “Heart of the sunrise” e aquela cavalgada é arrepiante (melhor tema dos Yes, estamos todos de acordo? A sério, revejam lá aquela incrível cena final de Buffalo ´66 e tudo faz sentido). Segue-se a pop atípica de “Owner of a lonely heart” (1980s pop em esplendor) e o regresso à progressividade chega com “Machine Messiah” (também dos 80s, mas épica e mais “clássica”). O final “oficial” chega com “Starship Trooper”, seguindo-se o encore com “Roundabout”. Grandiosidade, crescendos, riffs tempestuosos, psicadelismo old school, imaginário medieval, solos épicos. Tudo em ordem, tudo interpretado conforme as regras. E, claro, tudo regado com muito azeite, elemento essencial na dieta mediterrânea.
· 05 Nov 2011 · 12:19 ·
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com

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