No concerto de apresentação do novo disco de Old Jerusalem vieram ao de cima duas questões importantes: a primeira é que, com cinco discos debaixo do braço, Francisco Silva conseguiu já reunir um conjunto notável de grandes canções que apareceram quase de surpresa (“eh pá, nem me lembrava já desta”, “eish, esta canção é incrível”) num alinhamento que, nesta noite, fez questão de sobrevoar todo o seu percurso de dez anos na escrita de canções. Segunda questão, não menos importante: Old Jerusalem é cada vez mais uma banda muito - mas muito bem - oleada – muto bem mesmo – que leva todas as canções, mesmo aquelas eminentemente solitárias na sua génese, para um plano superior.

© Angela Costa

Bem acompanhado por Márcio Carvalho no baixo e voz, Pedro Oliveira na bateria e percussão e Luís Fernandes na guitarra, Francisco Silva apresentou o seu mais recente álbum, editado na PAD, homónimo e escrito e interpretado de uma forma solitária, fazendo-lhe toda a justiça e com admirável distinção. Entre canções, foi contando pequenas histórias que serviram para contextualizar as suas escolhas, ao mesmo tempo que foram quebrando o gelo inicial. As canções foram-se seguindo num registo inadvertidamente – e certeiramente – best of. Uma maravilha para os ouvidos.

Regressar ao passado foi um prazer. "Arduinna and the science boy", “180 days”, “O Joy Of Seeing You” ou “Love and cows” (já no encore, mordaz e bem humorada) foram apresentadas com a intensidade certa e adequada “falta de respeito” pela tradição. Mas o prazer foi todo de ver Old Jerusalem mostrar os frutos de uma carreira (na falta de melhor expressão) que se faz já de um conjunto de canções que o colocam muito facilmente como um dos maiores escritores de canções portugueses da sua geração. Independentemente da língua que escolheu para se expressar, com um pé no Porto e outro em território norte-americano, com respeito pelos seus heróis, seguríssimo na pele sempre exigente de cantautor.