Six Organs of Admittance
Teatro Maria Matos, Lisboa
10 Set 2011
A última vez que tínhamos visto Ben Chasny ao vivo foi há já cinco anos. Em 2006 Chasny apresentou-se na ZDB acompanhado pelos Comets On Fire para revelar o material incendiário de Avatar (um dos monumentos eléctrico-guitarrísticos da década, sem exagerar muito). Na altura pouco tempo passava da edição dos álbuns icónicos como School of the Flower ou For Octavio Paz e víamos em Chasny o perfeito discípulo de John Fahey, virtuoso com capacidade de revitalizar a folk no seu dedilhar mágico. Mas dessa vez só pudemos assistir às labaredas eléctricas do grupo psych-rock pós-setentista - sim, foi um incrível concerto, mas nem sombra de folk etérea.

Cinco anos passados (demasiado tempo), voltámos a dar de caras com Ben Chasny. O programa anunciava o projecto Six Organs of Admittance e no palco do Teatro Maria Matos estava apenas Chasny, guitarra e voz (na verdade, é tudo o que interessa). Se poderemos atirar que a partir da segunda metade da década de ´00 o interesse pela folk da linhagem Fahey terá esmorecido, esfumando-se o protagonismo que terá vivido em alguns círculos (culto que alimentou nomes como James Blackshaw, Glenn Jones e o prematuramente desparecido Jack Rose), a sala cheia do Maria Matos veio dizer-nos que uma simples guitarra dedilhada volta a fazer sentido.


© Luís Martins


Sozinho em palco, Chasny faz das cordas pressionadas e percutidas um extraordinário veículo de emoções. Com a sua técnica sobrenatural, com aquelas melodias quase em espiral, aquela guitarra deixa-nos inebriados, num estado de pré-embalo (era um grande abuso chamar-lhe “folk hypnagógica”, não era?). Aquela música é uma viagem à América profunda, às raízes da terra, mas essa tradição é combinada com uma eminente veia contemporânea. Por vezes Chasny servia-se também da voz, mas num assumido papel secundário - era aquele dedilhar intensamente mágico que deleitava todos aqueles que pagaram doze euros no Maria Matos.

Para o final ficou reservada a belíssima “Lisboa” - o instrumental que todos secretamente esperavam. O tema que fecha o disco School of the Flower foi composto aquando de uma passagem de Chasny pela capital portuguesa e no Maria Matos foi generosamente aplaudido. Foi o final perfeito de uma actuação que nos relembrou que Chasny merece, independente das modas, contínua devoção (sim, ainda houve encore, mas o essencial já tinha passado por aquele palco). Agora, Ben, vê lá se voltas depressa.
· 13 Set 2011 · 01:32 ·
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com

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