Animal Collective
Centro Cultural de Belém, Lisboa
25 Jul 2011
Há seis anos atrás os Animal Collective tinham acabado de editar a obra-prima Feels. Prometeram um concerto num cacilheiro mas acabaram por levar centenas de fiéis até um barracão no Ginjal para um concerto que se transformou numa espécie de missa celebratória. A experimentação tribal encontrava saídas pop, os gritos animalescos viravam refrões irresistíveis e o disco de 2006 era o apogeu sublime de uma longa caminhada. Seis anos passados o colectivo animal alcançou outro estatuto e chegou a uma sala de concertos tipicamente institucional, onde as pessoas assistem ao espectáculo sentadas nas confortáveis cadeiras - espaço pouco habituado a danças animalescas.

O grande auditório do CCB encheu para receber a banda de Panda Bear, Avey Tare, Geologist e Deakin – recentemente regressado. A expectativa era enorme, uma vez que estava ainda fresco o disco Merriweather Post Pavilion, o grande álbum do ano de 2009 para muito boa gente. Contudo, e não esquecendo a obra passada, o concerto dos Animal Collective foi sobretudo espaço de apresentação/teste de temas novos. O concerto arrancou de forma branda, mas à logo terceira canção chegou uma das maiores ovações: “Did you see the words” foi a viagem no tempo até à grandeza de Feels e o primeiro momento de celebração colectiva.

Animal Collective © Vera Marmelo

No palco do CCB o grupo animal distribui-se por tarefas mais ou menos fixas: Avey Tare fica na voz principal, além dos teclados ou guitarra, conforme os temas, ao extremo esquerdo do palco; Panda Bear trata da bateria (percutida de forma tribal) e faz a voz em segundo plano - apesar de em duas ou três músicas tomar a liderança; Deakin fica com a guitarra, no extremo direito do palco; já Geologist (de cabelo mais curto mas com a inevitável lanterna na cabeça) fica com a restante parafernália electrónica. São estas as ferramentas utilizadas para fazer desfilar um conjunto de temas inéditos, que vão sendo bem recebidos pelo público.

Vão surgindo diversas camadas electrónicas, samples, sons criados e transformados em tempo real, guitarras e teclados, percussões. Tudo isto é metodicamente trabalhado e sobreposto de forma a gerar música mutante, que de início pode soar estranha, mas com a qual dali a pouco já estamos familiarizados e vamos abanando a cabeça de forma incontrolável (as cadeiras do grande auditório não permitiam movimentos mais exuberantes). Um dos novos temas mais memoráveis anda às voltas de uma melodia oscilante e tem no refrão qualquer coisa como “like Mercury”.

Animal Collective © Vera Marmelo

Apesar do concerto servir como prova às canções novas, o quarteto não esquece que o público gosta de ouvir temas que possa reconhecer. Escuta-se a incrível “Brothersport” - os gritos de alegria ouvem-se a acompanhar aquele início “open up your..., open up your..., open up your..., open up your throat” - e o público vai novamente ao rubro. Para o final ficam guardadas mais duas favoritas do auditório: “We Tigers” (do incrível Sung Tongs, o disco da consagração) e a mais recente “Summertime Clothes” (ainda mais aplaudida).

O encore, muito solicitado, arranca com um tema atípico, extremamente despido (quase só guitarra e a voz melodiosa de Panda Bear) e o concerto termina com mais um tema do disco mais recente, “Merriweather Post Pavilion”, “Taste”, que lança uma pergunta: “Am I really all the things that are outside of me?”. Os Animal Collective não são só todas as coisas que os rodeiam, que absorvem, que consomem e que transformam. Infinito agregado multi-referencial, os Animal Collective são tudo isso e são muito mais. São algo completamente novo, são a grande referência da pop não-canónica do século XXI.

Na primeira parte os portugueses Aquaparque mostraram a sua pop enigmática onde a estranheza instrumental se interliga com uma voz que dá sentido a tudo - o duo nacional aproveitou a ocasião para apresentar material do novo disco Pintura Moderna. A estranha pop portuguesa dos anos 80 que nunca ninguém gravou fez a primeira parte da melhor banda do mundo em 2011.
· 28 Jul 2011 · 10:26 ·
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com
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