Saade + Russian Circles + Boris
Musicbox, Lisboa
26 Jun 2011
Nas últimas semanas o Musicbox foi palco de alguns espéctaculos inseridos na programação do Festival Silêncio, que teve o seu término precisamente ontem [Sábado]. O que resulta desde já num impacto ainda maior: do silêncio passámos às torrentes de ruído que o furacão Boris deixou nesta sua segunda passagem pela capital. Não num volume tão alto quanto se desejava - facto -, não tão rock n´roll como se exigia - verdade - mas ainda assim tão imprescindíveis quanto têm sido desde que Pink se revelou um dos melhores álbuns da década passada. Acompanhados dos checos Saade e dos norte-americanos Russian Circles, o trio, que em palco se transforma em quarteto, deu aos presentes (e eram muitos) um concerto com os seus altos e baixos mas que, no final, e principalmente virtude da grandeza de um tema como "Aileron", se revelou como tendo uma nota bastante positiva.

Boris © Nuno Martins

Coube aos europeus inaugurar, a tempo e horas, o espaço. Desde logo uma ressalva que não deveríamos ter que fazer: junto ao palco a voz pura e simplesmente não se ouvia. Zero. Népia. Um resto de Silêncio que teimou em não desaparecer, tanto com eles como com os japoneses. Viemos depois a saber, numa mini-conversa com o guitarrista que é também tour manager dos Boris, que tal se devia a haver um limite de décibeis. Presumimos que seja porque da primeira vez que o trio por cá passou a polícia teve de ser chamada a intervir... mais uma prova de que o Japão irá dominar o mundo assim que alterem o artigo nove da sua constituição. Mas continuando, os Saade são dois e fazem barulho suficiente para terem interesse. Trilham caminhos de blues pesado com alguma droga à mistura, e são competentes o suficiente para termos sentido pena de só terem tocado quatro temas. Mas os riffs e o ritmo mereceram aplausos.

Boris © Nuno Martins

Quem não teve problemas de voz foram os Russian Circles. Não porque gritaram mais alto do que os outros, mas porque ficaram completamente calados. Ou não andassem eles pelo pós-rock/metal fora a ensinar a muitos dos meninos que por aí andam como se toca uma malha a sério. Se à primeira ainda se pede a Brian Cook que aumente o volume do baixo, à terceira já não há como fugir do headbanging que se apodera do nosso corpo. Como um pavio que se acende: a calma com que constroem um ambiente que depois rebenta na fúria da bateria e das guitarras. Pelo meio, um tema novo que deverá ser incluído no álbum que irão lançar ainda este ano. Olhando de uma forma puramente objectiva, a noite foi deles.

Boris © Nuno Martins

Até porque os Boris decidiram tocar em Lisboa canções resgatadas apenas ao triunvirato que lançaram este ano (New Album, Attention Please e Heavy Rocks II, deixando para trás clássicos de Pink, Smile ou Akuma No Uta. Mas eles sendo quem são podem fazer o que bem lhes apetecer - até um disco electropop - mandando foder desde logo os queixumes clássicos de "vendidos!". Se ao início, depois do choque de um certo visual kei nos fazer troçar das luvas do possesso baterista, trazem alguma violência para o meio do público com temas agressivos e rápidos como "Riot Sugar" e "8", em "Party Boy" e "Attention Please" disparam um beat 4/4 e uma onda j-pop que desde logo alienou trezentos metaleiros que ainda não descobriram que as Perfume são outra das coisas boas a terem surgido do Sol Nascente. Virtude dos problemas já referenciados não foi possível ouvir a voz delicodoce do pequeno monstrinho a que carinhosamente iremos chamar Wata-chan, mas ouviu-se-lhe a guitarra e os momentos nos teclados de "Missing Pieces" e "Aileron", e só por isso já mereceu a pena. Tanto uma como a outra trouxeram à cabeça o nome dos compatriotas Mono e a urgência drone dos seus discos anteriores, e terminaram em grande um concerto que poderia ter sido mais longo - acabando meia hora antes do anunciado. Numa setlist gamada pôde-se confirmar que "1970" e "My Neighbour Satan" foram cortadas do alinhamento vá-se lá saber porquê. Mas também não interessa. Repita-se: eles sendo quem são podem fazer o que bem lhes apetecer.
· 27 Jun 2011 · 20:53 ·
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
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