King Midas Sound
Musicbox, Lisboa
18 Mar 2011
Em palco são muito mais sujos, mais noisy, mais caóticos do que em disco - Waiting For You... (Hyperdub, 2010) - deixaram transparecer. Noite de sexta-feira 18, no Musicbox, Lisboa, sala estranhamente pouco concorrida, ligeiro atraso devido a um problema técnico, uma hora de intensa experimentação (electrónica, vocal, instrumental), público ao rubro, palmas e assobios durante largos minutos suplicando por um encore que não chegou a acontecer.
O músico, produtor e jornalista britânico Kevin Martin (Curse of the Golden Vampire, The Bug, etc.) tem sido um dos mais prolíficos exploradores do inesgotável filão rítmico jamaicano, fusionando diversas linguagens sonoras (dancehall, grime, hip hop, trip hop, broken beat, dub, dubstep, etc.) num todo capaz de fazer brotar harmonia sensorial a partir de um caos pleonástico de fórmulas e referências. Desde há anos que Martin procurava uma voz que conferisse profundidade poética às suas texturas exóticas e sofisticadas, tendo experimentado várias em London Zoo (Ninja Tune, 2008), do projecto The Bug, o álbum que o colocou nos ouvidos do mundo.
Juntamente com Roger Robinson (com o qual já tinha colaborado) e Hitomi formou os King Midas Sound, os quais se dedicaram a explorar os novos filamentos dubstep. Tiveram um início auspicioso, ao marcarem presença na profética compilação Box of Dub - Dubstep and Future Dub (Soul Jazz Records, 2007). Mas não se confinaram à cena dubstep e souberam trilhar um caminho mais abrangente, bebendo inspiração no trip hop de Bristol e desembocando nas novas linguagens urbanas, passado e presente, tradição e inovação, raízes da música jamaicana e aplicações da electrónica pós-moderna. Martin encontrou as suas vozes, Robinson e Hitomi, que também trouxeram instrumentos e demais contribuições criativas.
Aclamado como um dos melhores discos de 2010, com o selo da Hyperdub (Burial, Zomby, Kode9 + The Space Ape, etc.), por entre insistentes comparações com os Massive Attack (talvez por recriarem um universo que o colectivo de Bristol já não consegue acompanhar, mas utilizando as mesmas ferramentas, os mesmos paradigmas) Waiting For You... continua a rodar em muitas aparelhagens e foi dele que se extraiu o essencial do concerto no Musicbox, mais algumas novidades de permeio, prenunciando um segundo capítulo para breve. Isto enquanto The Bug continua a mexer, com novo EP Infected (Ninja Tune, 2010) editado no final do ano passado, com colaborações de Hitomi e Roots Manuva, abrindo o apetite para um novo álbum que deverá sair este ano.
Entretanto, anuncia-se também um volume de remisturas dos temas contidos em Waiting For You..., prestes a chegar às lojas da especialidade. Martin avança com tudo isto e ainda tem tempo e disponibilidade para se entregar por completo no palco, experimentando novos caminhos para a música dos King Midas Sound, um sub-baixo vibrante a fazer gingar a anca e uma imensa parafernália electrónica a desenhar sensações na imaginação dos ouvintes, em confluência com as vozes, os instrumentos, a poesia urbana de Robinson e Hitomi. Um excelente concerto, pleno de plasticidade, transformando engenhosamente os temas originais, revestidos com matéria de pista de dança. Mesmo não tendo retornado para um encore, deixaram-nos em êxtase. Há muito tempo que não ouvíamos algo tão bom.
© Emília Salta |
O músico, produtor e jornalista britânico Kevin Martin (Curse of the Golden Vampire, The Bug, etc.) tem sido um dos mais prolíficos exploradores do inesgotável filão rítmico jamaicano, fusionando diversas linguagens sonoras (dancehall, grime, hip hop, trip hop, broken beat, dub, dubstep, etc.) num todo capaz de fazer brotar harmonia sensorial a partir de um caos pleonástico de fórmulas e referências. Desde há anos que Martin procurava uma voz que conferisse profundidade poética às suas texturas exóticas e sofisticadas, tendo experimentado várias em London Zoo (Ninja Tune, 2008), do projecto The Bug, o álbum que o colocou nos ouvidos do mundo.
Juntamente com Roger Robinson (com o qual já tinha colaborado) e Hitomi formou os King Midas Sound, os quais se dedicaram a explorar os novos filamentos dubstep. Tiveram um início auspicioso, ao marcarem presença na profética compilação Box of Dub - Dubstep and Future Dub (Soul Jazz Records, 2007). Mas não se confinaram à cena dubstep e souberam trilhar um caminho mais abrangente, bebendo inspiração no trip hop de Bristol e desembocando nas novas linguagens urbanas, passado e presente, tradição e inovação, raízes da música jamaicana e aplicações da electrónica pós-moderna. Martin encontrou as suas vozes, Robinson e Hitomi, que também trouxeram instrumentos e demais contribuições criativas.
© Emília Salta |
Aclamado como um dos melhores discos de 2010, com o selo da Hyperdub (Burial, Zomby, Kode9 + The Space Ape, etc.), por entre insistentes comparações com os Massive Attack (talvez por recriarem um universo que o colectivo de Bristol já não consegue acompanhar, mas utilizando as mesmas ferramentas, os mesmos paradigmas) Waiting For You... continua a rodar em muitas aparelhagens e foi dele que se extraiu o essencial do concerto no Musicbox, mais algumas novidades de permeio, prenunciando um segundo capítulo para breve. Isto enquanto The Bug continua a mexer, com novo EP Infected (Ninja Tune, 2010) editado no final do ano passado, com colaborações de Hitomi e Roots Manuva, abrindo o apetite para um novo álbum que deverá sair este ano.
© Emília Salta |
Entretanto, anuncia-se também um volume de remisturas dos temas contidos em Waiting For You..., prestes a chegar às lojas da especialidade. Martin avança com tudo isto e ainda tem tempo e disponibilidade para se entregar por completo no palco, experimentando novos caminhos para a música dos King Midas Sound, um sub-baixo vibrante a fazer gingar a anca e uma imensa parafernália electrónica a desenhar sensações na imaginação dos ouvintes, em confluência com as vozes, os instrumentos, a poesia urbana de Robinson e Hitomi. Um excelente concerto, pleno de plasticidade, transformando engenhosamente os temas originais, revestidos com matéria de pista de dança. Mesmo não tendo retornado para um encore, deixaram-nos em êxtase. Há muito tempo que não ouvíamos algo tão bom.
· 22 Mar 2011 · 00:12 ·
Gustavo Sampaiogsampaio@hotmail.com
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