Giant Sand
Casa da Música, Porto
05 Jun 2005
Em vinte anos de carreira, os concertos de Howe Gelb e dos (seus) Giant Sand no Santiago Alquimista e na Casa da Música (4 e 5 de Junho, respectivamente) marcavam a estreia da banda responsável por discos como Center of the Universe, Chore of Enchantment e o mais recente It’s All Over the Map. Vinte anos em que os Giant Sand foram superiormente comandados pela mão de Howe Gelb, o músico que vive algures no deserto do Arizona. Mas não foi só nos Giant Sand que Howe Gelb aplicou os seus esforços e criatividade: além da carreira a solo (formato com que se apresentou em Portugal há dois anos atrás, no Musicais, em Lisboa), Howe Gelb foi-se desdobrando em projectos como os OP8 e os Band of Blacky Ranchette.

Na verdade, os Giant Sand sempre viveram e ainda vivem de Howe Gelb. E ao vivo isso torna-se ainda mais óbvio. Isso e o facto de Gelb ser um músico exímio no que diz respeito a vários instrumentos, o que se reflecte na forma controlada e sapiente como conduz o concerto. Senta-se ao piano e começa canções, mas alguns minutos depois já segura uma guitarra acústica. Quando a pousa, agarra uma eléctrica. Consegue ao mesmo tempo tocar teclas, cantar e colocar uma harmónica - que haveria de tocar depois - no suporte. De seguida, ainda pega numa guitarra, senta-se no piano a tocar e consegue colocar o chapéu na cabeça. Com tudo isto, Peter Dombernowsky (percussão, bateria), Anders Pedersen (guitarra, mandolim eléctrico) e Thøger Lund (contrabaixo, baixo eléctrico) ficam inevitavelmente relegados para segundo plano. E não é com certeza por falta de instrumentos: entre guitarras, baixos (sem contar com o contrabaixo) e mandolins eléctricos podiam-se contar onze instrumentos.

A estreia dos Giant Gant em Portugal seguiu a sequência lógica de revisão da matéria dada, ou seja, a longa carreira da banda de Howe Gelb (sem esquecer a passagem por Is All Over The Map). Foi como uma espécie de viagem pela América (com um saltinho ao México), tendo o country como guia e o jazz e o blues como companheiros de viagem. Para avançar nas areias de um longo deserto, Howe Gelb fez-se rodear essencialmente de um piano ora festivo, ora sério, e de uma guitarra eléctrica que não raras vezes rugia em volume monumental. A tela por detrás do palco ia passando imagens de pessoas que dançavam e dos próprios Giant Sand em modo javardice.

Do tal último disco de originais It's All Over The Map seriam apresentadas “NYC of Time” e “Classico”; de The Listener, o último disco de originais de Howe Gelb, a curiosíssima “Felenious”, uma canção que em que se tecem comentários sobre Lou Reed, Duke Ellington e Neil Young (“The piano's stealing Lou Reed licks / Licks that he probably stole”). E até há uma canção dedicada a Rayner, um músico a quem Howe Gelb se referiu com as palavras "a friend who isn’t anymore with us”. Terminada a canção, ficou o video com um tema retirado de uma das actuações de Rayner – em jeito de homenagem – que foi aplaudido como se uma canção dos Giant Sand se tratasse. Quando se dirigiu ao público, Howe Gelb falou de um nice little bar na Casa da Música e até soltou um "That was cool. Thank you" quando do palco se soltou uma interferência estranhíssima. Como todos sabem, o estilo de Howe Gelb é deveras invejável. É tanto que se dá ao luxo de tocar os primeiros instantes do último tema da noite (já em pleno encore) algures nos bastidores, dando uso à tecnologia com que havia brincado minutos antes. Ou seja, fora ou dentro do palco, Howe Gelb foi o vencedor da noite.
· 05 Jun 2005 · 08:00 ·
André Gomes
andregomes@bodyspace.net

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