Magina / Julianna Barwick
ZDB, Lisboa
12 Mar 2011
Spacemen 3, Jean-Michel Jarre, Walter/Wendy Carlos, JD Emmanuel, Iasos, Bernard Févre e, incontornavelmente, Kraftwerk, um sem número de referências ou influências nas composições circulares de Magina (alter-ego recreativo de Pedro Magina, ele que também nos dá música através de Aquaparque e June). Sábado, 12 de Março, Galeria ZDB, Lisboa, apresentação ao vivo da nova cassete Nineteen Hundred and Eighty Five (Not Not Fun, 2011), perante uma sala bem composta.

Teclados e sintetizadores vintage, processando texturas ambientais, alienígenas, transcendentais, sem rumo definido, estendendo-se no espaço e no tempo sob indefinição poética, até à alunagem numa clareira ontológica. Só então é que nos apercebemos do movimento circular, por entre ruínas borgesianas, com eterno retorno ao não-lugar de partida. Mas foi boa, a ilusão, enquanto perdurou.

Julianna Barwick © Joana Cardoso

O mesmo se poderia escrever sobre Julianna Barwick, embora utilizando outros recursos materiais e espirituais, desde logo a voz. Loop após loop, sobrepondo sucessivas camadas vocais, entre a religiosidade do coro de uma igreja baptista no Sul dos Estados Unidos da América (de onde Julianna é oriunda, ainda que entretanto radicada em Brooklyn) e o barroco operático das manas CocoRosie, embalados pelo canto de coral que se esvai suavemente, sem nunca tomar a forma objectiva de palavras, quanto muito sussurros.

Magina © Joana Cardoso

No mais recente disco The Magic Place (Asthmatic Kitty, 2011), quando menos esperamos, surgem linhas de piano que arrebatam os sentidos e harmonizam a tensão que subsiste entre a voz despida e a parafernália tecnológica. Em palco, porém, apresentou-se sem piano (aliás, sem instrumentos, de todo), e a profundidade da sua música ressentiu-se. Soou algo desamparada, não conseguindo escalar dentro das composições circulares até à redenção do sublime.

Tímida, petrificada na mesma posição durante 1 hora, acabou a dedicar o concerto ao pai , que a acompanhou na digressão. Sem comparação possível, por exemplo, com a capacidade de encenação de Camille, que não precisa de mais nenhum instrumento para além da plasticidade da voz para conquistar uma sala de espectáculos de grande dimensão. Ora, nem a intimidade da pequena sala da ZDB lhe conferiu suficiente confiança para se soltar. Não se enganou uma única vez, uma nota ao lado, uma falsa partida, nada. Em suma, transformou um belíssimo disco num singelo bocejo, com muita pena dos admiradores que a receberam de braços abertos.
· 15 Mar 2011 · 00:25 ·
Gustavo Sampaio
gsampaio@hotmail.com
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