Arthur Doyle / Pão
ZDB, Lisboa
10 Mar 2011
Figura lendária do free jazz, Arthur Doyle sobe ao palco da ZDB poucos minutos depois das onze da noite. Agarra o saxofone e começa por tocar duas peças curtas a solo: discurso rarefeito, sopros breves, intervalados, pouco fôlego. Fica desde logo a sensação que o histórico saxofonista se encontra fisicamente debilitado, somos confrontados com a evidência que Doyle está longe das capacidades com que se notabilizou – som rugoso e enérgico-incendiário. Agora sobra apenas a faceta rugosa do seu som, a energia já não está ali - Doyle não consegue acompanhar o nível de músicos como Peter Brötzmann ou Joe McPhee que, sendo mesmo alguns anos mais velhos, ainda hoje em dia são capazes de actuações de uma enorme inensidade.
Após esses primeiros dois temas Doyle agarra o microfone e começa a cantar. Balbuciando palavras imperceptíveis, murmura/improvisa músicas – tivemos ali a oportunidade de ouvir uma das mais peculiares interpretações do clássico “Summertime” de Gershwin. Quando sentimos que estamos a chegar ao limite da senilidade/patetice, eis que sobe ao palco Gabriel Ferrandini. O baterista começa por fazer um solo (interessante, mas já lhe vimos momentos melhores) e depois entra num interessante duo com o saxofone de Doyle. A noite está salva.
Estimulado pela propulsão rítmica, o velho saxofonista revela uma estranha energia, que até àquele momento se encontrava oculta, e durante dois temas Doyle expressa um som feito de feroz emoção – apesar do som do saxofone não estar ao nível de gravações como Alabama Feeling, este momento justificava o bilhete. A actuação voltou depois a contar com mais momentos de canto/balbucio e também de saxofone a solo, mas o concerto valeu sobretudo pelo momento em duo e é isso que deverá ficar registado para a posteridade, uma lenda que ainda resiste na sua música – e era visível a felicidade de ainda o poder fazer.
Na primeira parte actuaram os lusos Pão, que apresentaram a sua música densa e controlada. O saxofone de Pedro Sousa trabalha um som uniforme, contínuo; Tiago Sousa (teclado, harmónio, percussão) desenvolve ambientes fantasmagóricos; Travassos (electrónica analógica) alimenta ainda mais a sombria neblina. O grupo que se apresentou ao mundo no Festival Rescaldo confirmou na ZDB que a sua música que vive numa imensa tensão circular que não chega nunca a rebentar.

Arthur Doyle © Dulce Cruz
Após esses primeiros dois temas Doyle agarra o microfone e começa a cantar. Balbuciando palavras imperceptíveis, murmura/improvisa músicas – tivemos ali a oportunidade de ouvir uma das mais peculiares interpretações do clássico “Summertime” de Gershwin. Quando sentimos que estamos a chegar ao limite da senilidade/patetice, eis que sobe ao palco Gabriel Ferrandini. O baterista começa por fazer um solo (interessante, mas já lhe vimos momentos melhores) e depois entra num interessante duo com o saxofone de Doyle. A noite está salva.
Estimulado pela propulsão rítmica, o velho saxofonista revela uma estranha energia, que até àquele momento se encontrava oculta, e durante dois temas Doyle expressa um som feito de feroz emoção – apesar do som do saxofone não estar ao nível de gravações como Alabama Feeling, este momento justificava o bilhete. A actuação voltou depois a contar com mais momentos de canto/balbucio e também de saxofone a solo, mas o concerto valeu sobretudo pelo momento em duo e é isso que deverá ficar registado para a posteridade, uma lenda que ainda resiste na sua música – e era visível a felicidade de ainda o poder fazer.
Na primeira parte actuaram os lusos Pão, que apresentaram a sua música densa e controlada. O saxofone de Pedro Sousa trabalha um som uniforme, contínuo; Tiago Sousa (teclado, harmónio, percussão) desenvolve ambientes fantasmagóricos; Travassos (electrónica analógica) alimenta ainda mais a sombria neblina. O grupo que se apresentou ao mundo no Festival Rescaldo confirmou na ZDB que a sua música que vive numa imensa tensão circular que não chega nunca a rebentar.
· 14 Mar 2011 · 19:00 ·
Nuno Catarinonunocatarino@gmail.com
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