Darkstar
Musicbox, Lisboa
19 Fev 2011
A notícia surgiu poucos dias antes da estreia em solo nacional do trio britânico Darkstar: deixaram de fazer parte integrante da Hyperdub (Kode9, Burial, King Midas Sound, etc.) e assinaram pela Warp (Clark, Autechre, Flying Lotus, etc.), culminando um processo de transformação conceptual iniciado com a junção da voz de James Buttery à parafernália electrónica dos produtores James Young e Aiden Whalley. Os Darkstar começaram por ser um duo que mal se distinguia no meio da vaga dubstep, entre meados de 2007 e 2009, editando singles, criando remisturas e marcando presença em diversas compilações dedicadas a um género que nunca foi estanque, mas em permanente metamorfose, até à aparente implosão com nome de rótulo: pós-dubstep.

© Emília Salta

O álbum de estreia, North (Hyperdub, 2010), terá sido uma das melhores surpresas do ano passado. Todo aquele iceberg de modulação computacional formado por Young e Whalley parecia, afinal, conter uma imensa reserva de sentimento humano, como que expiado pela vocalização de Buttery. «Do androids dream of electric sheep?», questionava Philip K. Dick. Pura ficção científica à Human League, John Carpenter e Kraftwerk, por entre bandas sonoras obscuras, os Radiohead de Thom Yorke, a linha portuária de Bristol (génese do trip-hop de Massive Attack, Tricky, etc.) ou as paisagens urbano-depressivas de Burial, miríade de influências e referências sublimadas numa capa de filamento pós-industrial (sob filtro vermelho de modelo HAL).

© Emília Salta

Para os puristas do dubstep, por mais sintetizadores e vocoders que utilizassem, começaram a soar mais a The xx, Portishead (lembram muitas vezes a precursora "Machine Gun") ou The Knife do que propriamente à característica linguagem com o selo da Hyperdub. O formato e a cadência da batida, a par dos apetrechos tecnológicos, deixaram de ser o mais relevante na sonoridade dos Darkstar. Seguiram as pisadas de Flying Lotus, que também começou por ser associado ao dubstep, mas, de tão caótico e multirreferencial, acabou a coleccionar rótulos (prontamente desconstruídos, pois Steven Ellison é tudo menos previsível e convencional). A mudança para a bem mais ecléctica Warp de Chris Clark é um passo dado com naturalidade, oficializando a mudança de direcção criativa.

© Emília Salta

Noite de sábado 19, Musicbox, Lisboa, casa cheia para ouvir as 10 faixas de um disco que figurou na maioria das listagens de melhores do ano de 2010. Não chegaram à ansiada dezena nem tão pouco tocaram durante mais de 1 hora, quase que numa escuridão total (o filtro vermelho só se acendeu na recta final). Buttery revelou-se algo quezilento (exalando algum desconforto) mas compensou com a total entrega em palco às composições, que não divergiram muito do som original de estúdio. Um concerto com bons momentos, embora sabendo a pouco, talvez porque algo curto. O encore resumiu-se ao hit "Gold" e no fim havia quem suspirasse por mais, batendo palmas e chamando o trio de regresso ao palco. Sem sucesso. Tão só frio tecnológico. Aguardemos por um segundo disco e nova investida ao vivo.
· 22 Fev 2011 · 19:45 ·
Gustavo Sampaio
gsampaio@hotmail.com

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