Japanther / Shellshag
Galeria Zé dos Bois, Lisboa
20 Jan 2011
À hora a que se escreve este texto já os Japanther terão abandonado o país rumo à Alemanha, onde mais uma data desta digressão os espera. À hora a que se escreve este texto, oito horas precisamente após o término do concerto da ZdB, os ouvidos ainda estão a chiar e as pernas continuam dormentes - chegar a casa foi um misto entre milagre e martírio. À hora a que se escreve este texto, é impossível não se sentir uma enorme pena, ainda que seja já sexta-feira, das centenas de pessoas que se aglomeram na plataforma da estação ferroviária com vista a mais um dia de trabalho, eles que não puderam estar presentes no verdadeiro happening que foi a presença de Ian Vanek e Matt Reilly no aquário. Porque era especificamente a estes que a vertente política do concerto seria dedicada; aos outros, à juventude sónica, que esteve em peso, não existem razões por que se queixem. Pelo menos durante algum tempo.

Mas vamos por partes. Shellshag. São um power duo guitarra/bateria homem/mulher, que tocam canções pop com travo grunge, tudo muito minimalista e com a mínima quantidade de efeitos - o que se traduziu em algo que, ao início e ainda com a bateria carregada, foi interessante q.b. para ficarmos junto do palco durante três canções. Mas a banalidade tem uma data de validade, e no final já nos encontrávamos a abastecer cá atrás, tentando aquecer o corpo com o indispensável álcool numa noite gelada. Aos Shellshag reconhecemos potencial - especialmente a genialidade da frase fuck society, fuck sobriety, mas muito têm ainda que aprender.

Talvez tenham sofrido da síndrome "banda de abertura". Porque mal os Japanther entram em palco, apenas um baixo, uma bateria e uma caixinha mágica de onde saem samples de vozes e drum loops, perguntando a Bart Simpson se estamos prontos, e levando à histeria colectiva de meia dúzia de groupies mal saídas da puberdade, sabemos que estamos na presença de uma das poucas bandas de punk rock directo que interessam. Por entre temas do mais recente Rock ´N´ Roll Ice Cream, como a enorme "Surfin´Coffin" e a sentimental "She´s The One", ou até mesmo uma versão redux de "Blietzkrieg Bop" (a sério, esta canção não morrerá nunca), há empurrões, simulações de karaoke, crowdsurfing, epilepsias de quinze anos. Tudo com uma alegria e urgência inacreditáveis quando nos lembramos de que chegaram aqui após terem sido assaltados em Amesterdão. Quando estão as eleições prestes a bater à porta, é refrescante ouvir alguém que exulta o pensamento colectivo: fuck the government. Foi curto? Foi, único lamento. Foi completo? Faltou talvez a violência-rebuçado de "Radical Businessman". Foi absurdamente incrível? Foi: as pernas doem por si.
· 21 Jan 2011 · 14:34 ·
Paulo Cecílio
pauloandrececilio@gmail.com
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