Fausto
Coliseu do Porto, Porto
04 Jun 2005
Sabe-se que Fausto não é grande fã de concertos. Um ano e meio depois do lançamento de A Ópera Mágica do Cantor Maldito, Fausto decidiu apresentar o seu mais recente disco – um álbum que relata a experiência de uma geração que viveu o antes e o depois do 25 de Abril – aos públicos de Lisboa (num concerto no Centro Cultural de Belém no passado dia 27 de Maio) e do Porto, num Coliseu a meio gás. O público, esse, era aquele da geração que melhor poderia acolher e apreender a mensagem que Fausto tenta passar – aquele que muito certamente viveu o 25 de Abril, e até o tal antes e depois. Uma geração que sente que qualquer concerto de Fausto é uma ocasião para marcar presença obrigatória, que sabe que cada concerto do autor de A Ópera Mágica do Cantor Maldito corre o risco de ser o último. Fausto não abre muito o jogo. Além de não ser grande fã de concertos, também não o é em relação às entrevistas.
O que muitos não saberiam talvez é que a primeira parte do concerto seria baseada na sua totalidade na mais recente obra A Ópera Mágica do Cantor Maldito, que foi apresentada precisamente como tal: como uma ópera, em todas as suas 16 cenas, com todas as suas personagens. Mas há uma personagem especial. O tal cantor maldito, uma referência aos cantores de protesto. Começamos então por “O Redil”, e seguimos directamente até “Era uma vez um Cantor Maldito”, uma grande canção que fala da proletária ditadura, da censura, da bolsa de valores e do dirigente mais esquerdista da altura. “Era uma vez um Cantor Maldito” é um bom exemplo da elevação da música tradicional portuguesa que Fausto sempre defendeu ao longo da sua carreira. O sentimento é português, as letras seguem o seu pensamento e a sua visão peculiar da História de Portugal. “A Ouro e Prata” é uma serena narrativa (ao mesmo tempo doce e melancólica) que funde o mundo carnal de uns lábios de champanhe com a bolsa de Berlim, a felicidade no Panamá e as economias de escala. “A Ouro e Prata” é uma daquelas canções que mostram porque é que A Ópera Mágica do Cantor Maldito é um dos melhores discos portugueses de 2003.
A primeira vez que se dirigiu ao público foi para destacar três aspectos para si essenciais. Pediu desculpa a todos pelo eventual esquecimento das letras (algo que todos já tinham reparado) e confessou que prefere o risco de esquecer uma ou outra parte dos seus longos textos a passar o concerto todo a ler de um papel. Depois, alertou o público para a presença de dois convidados muito especiais, dois músicos de que confessou ser fã ao ponto de ouvir os seus discos insistentemente. Esses dois músicos são Amélia Muge e João Afonso. Por fim, agradeceu aos seus sponsors, sublinhando que, para si, os melhores patrocinadores são o seu público. O desenrolar de A Ópera Mágica do Cantor Maldito continuou em todos os seus capítulos e chegou a “Um Breve Bilhete Apenas”. Do disco para o concerto, a canção perde o toque dos arranjos de cordas mas conta na mesma com Amélia Muge, ora sozinha guiando a canção, ora em forma de dueto com Fausto. E quando ambos dizem “Tão perto da longa distância que me afasta de ti / porque te deixo este breve bilhete tão breve e tão pouco”, a saudade confunde-se com a distância, a ausência com a presença e o momento torna-se eterno. Logo a seguir, a sarcástica “A Nova Brigada dos Coronéis de Lápis Azul” anuncia, como o próprio nome indica, a chegada de uma nova brigada do lápis azul.
“Se Já Não Chamo P'lo Teu Nome” é um maravilhoso fundir de elementos acústicos com elementos eléctricos, com o requinte da escrita de canções com o selo de Fausto. Logo a seguir, seria a vez de João Afonso entrar em palco no tema “A Penumbra Da Claridade”. Quando se dá a notícia que “Morreu o Cantor Maldito, morreu o Cantor Maldito”, é tempo de Fausto e a sua banda, com a excepção de dois elementos, abandonarem o palco. E esses dois elementos foram precisamente os músicos que desde cedo tomaram conta da percussão. Partiram então – na ausência do resto da banda – para uma longa demonstração de brilharetes na percussão que arrancou grandes aplausos. O encore mostraria Fausto Bordalo Dias a tocar canções essencialmente baseadas nas temáticas dos descobrimentos, do mar e do vento, dos navegados. Mas Fausto voltaria ainda para um segundo encore pedido pelo público que, em pé, aplaudiu o autor de A Ópera Mágica do Cantor Maldito durante longos minutos, porque todos sabiam (embora não o desejassem) que aquele poderia muito bem ser o último concerto de Fausto, um dos nomes maiores da música portuguesa.
O que muitos não saberiam talvez é que a primeira parte do concerto seria baseada na sua totalidade na mais recente obra A Ópera Mágica do Cantor Maldito, que foi apresentada precisamente como tal: como uma ópera, em todas as suas 16 cenas, com todas as suas personagens. Mas há uma personagem especial. O tal cantor maldito, uma referência aos cantores de protesto. Começamos então por “O Redil”, e seguimos directamente até “Era uma vez um Cantor Maldito”, uma grande canção que fala da proletária ditadura, da censura, da bolsa de valores e do dirigente mais esquerdista da altura. “Era uma vez um Cantor Maldito” é um bom exemplo da elevação da música tradicional portuguesa que Fausto sempre defendeu ao longo da sua carreira. O sentimento é português, as letras seguem o seu pensamento e a sua visão peculiar da História de Portugal. “A Ouro e Prata” é uma serena narrativa (ao mesmo tempo doce e melancólica) que funde o mundo carnal de uns lábios de champanhe com a bolsa de Berlim, a felicidade no Panamá e as economias de escala. “A Ouro e Prata” é uma daquelas canções que mostram porque é que A Ópera Mágica do Cantor Maldito é um dos melhores discos portugueses de 2003.
A primeira vez que se dirigiu ao público foi para destacar três aspectos para si essenciais. Pediu desculpa a todos pelo eventual esquecimento das letras (algo que todos já tinham reparado) e confessou que prefere o risco de esquecer uma ou outra parte dos seus longos textos a passar o concerto todo a ler de um papel. Depois, alertou o público para a presença de dois convidados muito especiais, dois músicos de que confessou ser fã ao ponto de ouvir os seus discos insistentemente. Esses dois músicos são Amélia Muge e João Afonso. Por fim, agradeceu aos seus sponsors, sublinhando que, para si, os melhores patrocinadores são o seu público. O desenrolar de A Ópera Mágica do Cantor Maldito continuou em todos os seus capítulos e chegou a “Um Breve Bilhete Apenas”. Do disco para o concerto, a canção perde o toque dos arranjos de cordas mas conta na mesma com Amélia Muge, ora sozinha guiando a canção, ora em forma de dueto com Fausto. E quando ambos dizem “Tão perto da longa distância que me afasta de ti / porque te deixo este breve bilhete tão breve e tão pouco”, a saudade confunde-se com a distância, a ausência com a presença e o momento torna-se eterno. Logo a seguir, a sarcástica “A Nova Brigada dos Coronéis de Lápis Azul” anuncia, como o próprio nome indica, a chegada de uma nova brigada do lápis azul.
“Se Já Não Chamo P'lo Teu Nome” é um maravilhoso fundir de elementos acústicos com elementos eléctricos, com o requinte da escrita de canções com o selo de Fausto. Logo a seguir, seria a vez de João Afonso entrar em palco no tema “A Penumbra Da Claridade”. Quando se dá a notícia que “Morreu o Cantor Maldito, morreu o Cantor Maldito”, é tempo de Fausto e a sua banda, com a excepção de dois elementos, abandonarem o palco. E esses dois elementos foram precisamente os músicos que desde cedo tomaram conta da percussão. Partiram então – na ausência do resto da banda – para uma longa demonstração de brilharetes na percussão que arrancou grandes aplausos. O encore mostraria Fausto Bordalo Dias a tocar canções essencialmente baseadas nas temáticas dos descobrimentos, do mar e do vento, dos navegados. Mas Fausto voltaria ainda para um segundo encore pedido pelo público que, em pé, aplaudiu o autor de A Ópera Mágica do Cantor Maldito durante longos minutos, porque todos sabiam (embora não o desejassem) que aquele poderia muito bem ser o último concerto de Fausto, um dos nomes maiores da música portuguesa.
· 04 Jun 2005 · 08:00 ·
André Gomesandregomes@bodyspace.net
RELACIONADO / Fausto