Festival Milhões de Festa
Praia Fluvial, Barcelos
23-25 Jul 2010
All Summer Long

Ainda com milhões de festivaleiros a recuperar das doses massivas de electricidade da noite anterior, o segundo dia do MdF arrancou na piscina, com uma sequência de actuações e djs a animar o povo semi-despido. Desta tarde na piscina destacaram-se os Feia Medronho, com ironia pós-moderna e a participação especial do “homem de verde†(há registos vídeo, certamente). Mais a sério, o palco principal abriu com os Long Way to Alaska, que apresentaram uma folk/pop solarenga, bem adequada ao fim de tarde quente. Há ali boas ideias mas fica a sensação que o grupo está ainda em amadurecimento, com potencial ainda não explorado, a faltar ali qualquer coisa. Andámos até ao Palco Vice e seguiu-se Cavalheiro, pseudónimo artístico de Tiago Ferreira, que mostrou as suas canções com letras em português sobre músicas taciturnas. As músicas abordam temas como o Bom Jesus de Braga ou a vila de Fão (localidade onde o artista passou o Euro 2004, confessou). Uma das surpresas desta actuação segura foi a inclusão de “Cold Blooded Old Timesâ€, original de Bill “Smog†Callahan, numa interpretação bem competente. Os Appaloosa trouxeram um electro-pop alegre: a voz da bela Anne Marie sustenta um conjunto de canções idílico-dançáveis, fofura alimentada a batidas e sintetizadores pré-gravados numa actuação que, não sendo deslumbrante, deixou alguns sorrisos. Já o duo Hype Williams trouxe a sua música feita de bases instrumentais arrastadas, sombrias e complexas, complementadas por vocalizações esparsas, numa performance globalmente inconstante.

O primeiro grande momento do dia chegou com os portugueses PAUS, que encontraram um recinto já muito bem composto. O concerto baseou-se naturalmente nos temas do fresquinho EP É uma água, com a potência da bateria siamesa em evidência, com o apoio enérgico de baixo e teclados. O pico do concerto chegou no penúltimo tema, “Mudo e surdoâ€, que contou com a participação de um percussionista extra, deixando o público em êxtase. Os velhinhos The Fall mostraram que, mesmo com 35(!) anos de vida, continuam uma verdadeira máquina rock, onde entra com todo o à-vontade a voz de Mark E. Smith (que canta como quem declama ou vice-versa). Smith começou o concerto com dois microfones à sua frente, mas não se deu por satisfeito antes de se servir de todos os microfones que encontrou no palco, debitando versos com aquela voz quase indecifrável. A certa altura o histórico vocalista abandona o palco para não voltar, a banda toca uma última canção, já sem o líder, e o concerto encerra de forma algo abrupta. Foi uma boa lição de história rock, apesar da curta duração - 40 minutos onde até houve mosh. O espanhol El Guincho levou a Barcelos a sua pop veraneante e não desiludiu os fãs de Alegranza. Pablo Díaz-Reixa cantou e manipulou samplers, percussão electrónica e esteve acompanhado por guitarra e baixo, o que deu à actuação uma dimensão mais orgânica. As canções acabaram por soar um pouco diferentes do som do disco, mas apesar dos limitados recursos da actuação “live†o espanhol conseguiu fazer a festa. Enquanto boa parte do público fazia “o comboioâ€, Guincho desvendou um pouco do disco novo, a editar em Setembro, e guardou para o final o hit “Antillasâ€, que obrigou o povo a dançar (ainda mais) freneticamente.

Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com

· 27 Jul 2010 · 13:48 ·

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