Margarida Garcia + Barry Weisblat
Galeria Zé dos Bois, Lisboa
23 Jun 2010
A bela sala, até então desconhecida, no primeiro andar da galeria Zé dos Bois, de tectos altos ligeiramente trabalhados (naquele sóbrio estilo francês devidamente aportuguesado faz anos) e janelas toscas, serviu de palco perfeito para saudar o regresso de Margarida Garcia, desta feita, na companhia de Barry Weisblat.
Com uma iluminação discreta, o duo apresentou-se com Garcia na guitarra tocada com arco (técnica que já vinha sendo trabalhada nos Curia) e Weisblat embrenhado em dois pequenos teclados/sintetizadores. Sabendo de antemão do historial dos músicos envolvidos e de uma crescente cumplicidade entre eles, a empatia seria uma constatação óbvia, mesmo que a livre improvisação possa frequentemente resvalar para estados de um autismo infértil. A necessária noção de risco. Não foi esse o caso da curta actuação, com as cordas de Garcia, a lembrarem até os arranjos mais obtusos de Carl Zittrer (nome maior das bandas sonoras slasher), embrenhando-se nos sons reverberados dos mini-teclados do ex-Tower Recordings, entre o abandono de “Welcome to the Machine” e o duelo entre espaço e claustrofobia dos Supersilent.
Estes últimos poderiam até ter sido evocados durante o concerto, não fosse um certo espírito residual do rock mais livre made in USA ter andado constantemente em desafios circulares com a estética envolvente das produções da ECM. Presidiu a toda esta contenção (nunca austera) uma aura com tanto de litúrgico (os teclados, principalmente) como de soturno (a tensão das cordas), num equilíbrio constante de escape ao silêncio que encheu esta nova sala. Esperemos por mais revelações do género. Até agora, perfeito.
© ZDB |
Com uma iluminação discreta, o duo apresentou-se com Garcia na guitarra tocada com arco (técnica que já vinha sendo trabalhada nos Curia) e Weisblat embrenhado em dois pequenos teclados/sintetizadores. Sabendo de antemão do historial dos músicos envolvidos e de uma crescente cumplicidade entre eles, a empatia seria uma constatação óbvia, mesmo que a livre improvisação possa frequentemente resvalar para estados de um autismo infértil. A necessária noção de risco. Não foi esse o caso da curta actuação, com as cordas de Garcia, a lembrarem até os arranjos mais obtusos de Carl Zittrer (nome maior das bandas sonoras slasher), embrenhando-se nos sons reverberados dos mini-teclados do ex-Tower Recordings, entre o abandono de “Welcome to the Machine” e o duelo entre espaço e claustrofobia dos Supersilent.
Estes últimos poderiam até ter sido evocados durante o concerto, não fosse um certo espírito residual do rock mais livre made in USA ter andado constantemente em desafios circulares com a estética envolvente das produções da ECM. Presidiu a toda esta contenção (nunca austera) uma aura com tanto de litúrgico (os teclados, principalmente) como de soturno (a tensão das cordas), num equilíbrio constante de escape ao silêncio que encheu esta nova sala. Esperemos por mais revelações do género. Até agora, perfeito.
· 23 Jun 2010 · 12:02 ·
Bruno Silvacelasdeathsquad@gmail.com
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