Dias da Música em Belém 2010
Centro Cultural de Belém, Lisboa
23-25 Abr 2010
Mais uma edição dos Dias da Música no CCB, mais um grande sucesso. Os concertos são às dezenas, os músicos são às centenas, os espectadores são aos milhares. O Centro Cultural de Belém enche-se de gente, de famílias, de uma média etária muito acima dos espectáculos da restante temporada (onde andarão durante o resto do ano?). Sendo o tema desta edição "As Paixões da Alma", as escolhas musicais foram programadas à volta dos temas da emoção e do sentimento.

Mais uma vez o CCB conseguiu uma programação forte no âmbito da música clássica, chamando grandes músicos e grandes ensembles para interpretar grandes compositores. Faltou, no entanto, aposta numa programação mais aberta, menos fechada na "clássica", aberta a outras músicas (nos anos anteriores houve muito jazz, o que se encaixou sempre bem) mas também a músicas mais actuais - poderia haver uma maior aposta nos compositores do século XX e nos compositores vivos, que também abordam "paixões da alma".

O festival foi inaugurado na noite de sexta-feira com a actuação do Retrospect Ensemble, acompanhado por um conjunto de cantores britânicos, que interpretou uma "ode pastoral" de Handel. No sábado, bem cedinho (14h), assistiu-se a um dos melhores momentos dos "Dias": a Orquestra de Câmara Portuguesa, dirigida pelo brilhante Pedro Carneiro, foi acompanhada pelo pianista Jorge Moyano numa belíssima interpretação do Concerto para piano e orquestra nº 2, em Fá menor, op. 21 de Chopin. De seguida, já sem Moyano e sob a direcção José Eduardo Gomes, a OCP abordou repertório de Mozart.

© Sofia Ferreira

De seguida, pelas 16h, o Ensemble Mediterrain - cinco sopros (flauta, oboé, clarinete, fagote e trompa) e dois cordofones (violoncelo e contrabaixo) atacou um programa original: seis "bagatelas" (pequenas peças de dois minutos cada) de György Ligeti, uma coisa mais séria de Brahms (Sonata para violoncelo, quinteto de sopros e contrabaixo, em Mi menor, op. 38) e Cinco Miniaturas para Quinteto de Sopros do português Eurico Carrapatoso (presente na sala). Interpretações impecáveis deste ensemble multinacional dirigido por Bruno Borralhinho.

No sábado tivemos ainda oportunidade de assistir à actuação do grupo O Guardador de Canções, ensemble nacional dedicado à interpretação de canções de diversas épocas. Este quarteto vocal, acompanhado ao piano, abordou temas de autores tão diferentes como Schubert, Debussy, Satie, Bernstein ou Pinho Vargas. Os quatro cantores não falharam, trabalhando cada tema com uma dedicação exemplar. Para o final ficou guardado o tema mais divertido do programa, "I Love You", do americano John Corigliano.

O início da tarde de domingo (13h) assistiu àquela que foi a carta mais fora do baralho desta programação: actuou o bluesman Corey Harris (também já havia tocado na noite anterior). Sem ligação aparente à restante programação, Harris mostrou os seus blues numa actuação a solo, pouco tempo depois de ter passado pela lisboeta Culturgest – tinha ali actuado com o seu grupo, numa vertente mais próxima do reggae, a 30 de Janeiro.

Um dos mais belos momentos destes Dias da Música foi sem dúvida a actuação da pianista Joana Gama. Tendo por base a música de Erik Satie, a jovem portuguesa pegou também em temas de compositores que se inspiraram no francês, como John Adams e Arvo Pärt. Do alinhamento destacaram-me as populares “Gymnopedie Nº1” e “Gnossiene Nº1”, numa interpretação que valeu muitos aplausos e dois encores.

A festa acabou com a actuação da Orquestra Sinfónica Metropolitana de Lisboa. Sob direcção de Cesário Costa e acompanhada pelo coro Lisboa Cantat, a orquestra fez-se à “nona” de Beethoven (aquela do Hino da Alegria), contribuindo para um encerramento épico. Foi um final feliz para uma edição em que foram emitidos cerca de 29 mil bilhetes e teve cerca de um terço dos concertos esgotados. E tudo isto num fim-de-semana de muito sol. Um sucesso, pois claro.
· 26 Abr 2010 · 01:30 ·
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com

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