The Fiery Furnaces
Santiago Alquimista, Lisboa
26 Fev 2010
Quem vinha da chuva exterior e esperava um Santiago Intimista sentiu-se enganado. À pinha, diria 90% de fãs e restantes curiosos, os The Fiery Furnaces começaram 18 minutos depois da hora mas com vontade de recuperar o tempo perdido de forma rápida e surpreendentemente rockeira. Nada de piano, órgão, sintetizador que os valha, que sempre os acompanharam em digressões passadas. Quis o destino que o primeiro concerto dos manos Friedberger por terras lusas fosse cru. Eleanor livre de qualquer instrumento, de pé com o microfone quase sempre no tripé e atitude Patti Smith q.b.. A apoiá-la, claro, o irmão Matthew de guitarra colada às mãos, longe de qualquer tecla ou percussão que ele tão bem domina. Ao seu lado, o baixista Jason Loewenstein e na bateria, o experiente Bob D’Amico, companhias já habituais nos últimos anos em concerto, incluindo aqueles... com teclas.

© Rita Cabrita

E nesta inicial estranheza e desapontamento a banda até se sai muito bem, com leituras do seu último álbum I’m Going Away, ele também bem menos provido de teclas. Destaque para um excelente e absolutamente dançável “Charmaine Champagne” que seguiu em doses sucessivas de bom som até um “The End is Near”, sem piano mas ainda assim muito charme, via guitarra muito bem trabalhada de Matthew. Depois desta música de nome ameaçador, Eleanor relembrou um pedido inicial “por favor não fumem”, apontando o facto de estar com a garganta irritada, fruto de uma digressão que não pára e os trouxe de Valência onde tinham actuado 2 dias antes num Fevereiro cheio em terras de França e Espanha. Ainda por cima, esta versão mais rockeira dos Fiery puxa mais da voz da Eleonor que, longe ainda de qualquer “end”, lá seguiu a toada Patti Smith para mais algumas boas canções, agora revisitando mais porfolio antigo, Gallowsbird’s Bark e Blueberry Boat. As canções do primeiro aguentaram-se muito melhor à crueza instrumental, com um bom “Crystal Clear”, por exemplo.

© Rita Cabrita

Exactamente uma hora depois, saem todos do palco, com excepção de Matthew que continua a brincar com a sua guitarra anunciando um encore. Que minutos depois surge com o resto da banda menos a Eleonor. Esta regressa ao palco minutos depois para um encore que teve pouco de magnífico. Os clássicos “Tropical Ice-land” e “Here Comes the Summer” acelerados e “aguitarrados” não funcionaram, pelo menos para alguma gente. Contudo funcionaram ainda assim para muitos que bateram palmas (rendidos?) à procura de um segundo encore, que apesar da cara de Eleonor meio frete, lá conseguiram. E um “Single Again” revisitado, de forma interessante mas longe, longe das suas reais possibilidades, ainda por cima já demonstradas antes, tanto em estúdio como ao vivo. No fim, uma grande mistura de palmas, satisfação, desilusão, frustação, no fundo, divisão de opiniões. E era fácil não ter havido. Posso não ter um Wurlitzer, um Moog ou um Fender Rhodes, mas podiam ter dito que eu trazia o Yamahazito lá de casa e era problema resolvido. Para esquecer, recomendo o disco deles ao vivo: Remember, como diz o Gato, 15 a 0, 15 a 0.
· 01 Mar 2010 · 23:24 ·
Nuno Leal
nunleal@gmail.com
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