Carminho
CCB, Lisboa
9 Dez 2009
Carmo Rebelo de Andrade, 25 anos, vestido de gala preto, franja impecável. E um CCB, grande auditório, absolutamente esgotado, tão esgotado que este vosso enviado do Bodyspace teve que ficar em pé – todos os dias se aprende e com isto se aprendeu que do balcão em pé também dá para ver concertos, especialmente se inclinarmos um bocadinho o pescoço. O acompanhamento instrumental é tradicional: guitarra portuguesa, guitarra clássica, guitarra baixo acústica. Carminho arranca e solta aquele vozeirão, fenómeno da natureza, até assusta. No disco Fado já se percebe a intensidade da voz, mas ao vivo a jovem fadista esforça-se ainda mais, estica-a até ao limite, agarra cada canção com o coração todo, estica-se nos tempos, leva cada fado até onde pode. E pode muito.

O espectáculo percorreu quase exclusivamente o alinhamento disco Fado, grande acontecimento fadista do ano, simultaneamente a revelação e o maior fenómeno mediático - o óptimo Leva-me aos Fados de Ana Moura terá de se contentar com o segundo lugar. Fora do disco, Carminho passa por “Fado Perseguição”, canção tornada famosa por Camané como “Mais Um Fado no Fado”, numa versão com outro poema mas igualmente intensa. Para a interpretação de “Espelho Quebrado” Carminho conta com o grande Carlos Barretto no contrabaixo, num tema onde a guitarra portuguesa não faz falta e o contrabaixo enche o espaço todo com a sua paleta de graves.

Nem tudo foi perfeito e “Carta a Lisboa”, um dos temas mais irresistíveis do disco, acabou por marcar o concerto pela negativa: Carminho perdeu-se na letra e no ritmo acelerado sem pausas. Sai Carminho, pausa para instrumental, é a vez das guitarras. E entra depois o fadista Ricardo Ribeiro, para dois temas - o segundo já em dueto. Carminho regressa em força e ataca os temas do disco, para fechar depois o espectáculo com a belíssima “Escrevi teu nome no vento”, coisa de arrepiar. O final foi apoteótico, com ovação em pé, muitas palmas e dois encores - com as populares “Marcha de Alfama” e a repetição d'“A Bia da Mouraria”. Esta moça faz-se.
· 10 Dez 2009 · 11:38 ·
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com
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