Oxbow / Todd / Guapo
Corsica Studios, Londres
12 Nov 2009
O pano de fundo é Londres numa plena noite de Outono. A chuva, por muito frágil que por momentos fosse, não dava sossego. O frio também não. O céu que de dia era cinzento e aborrecido, de noite estava pintado em tons de vermelho e laranja e aparentava desabar. Há uma qualquer beleza neste cenário de horror. Indefinida e descontrolada. Ao atravessar o rio, que se agita como se fosse mar, existe uma percepção bizarra de que até o Tamisa dá as boas-vindas a um certo quarteto norte-americano que visita a capital britânica esta noite. Chamam-se Oxbow e vieram para sonorizar o fim do mundo.
A sala é o esperado. Da última vez que visitámos os Corsica Studios foi para ver Sunn 0))) e experienciou-se algo de religioso. Cerca de um ano depois, o espaço está igual. Panos pretos cobrem as paredes e o tecto, dando um ar provisório à sala. Como se estivéssemos numa tenda que se vai desmoronar durante ou após o concerto. Não está tão cheio como para o duo de Stephen O'Malley e Greg Anderson. O tipo de público não é muito diferente.
Oxbow entram em palco à s 22h, indicam os sinais à entrada. Só isso importa, mas há mais dois nomes - inesperados - no cartaz. Pouco importariam em circunstâncias normais, mas esta noite é um crescendo, em estilo de requiem clássico e a abertura impõe uma responsabilidade superior. Talvez haja exagero nestas palavras, mas Oxbow não são uma banda qualquer. A última vez que o Bodyspace os viu em concerto, eram um duo acústico, só Eugene Robinson na voz e Niko Wenner à guitarra. Estavam a abrir para Isis e foram, de longe, o ponto alto da noite. Intensidade (a palavra-chave e a mais repetida nas definições aplicadas à banda) não se faz com peso, nem nÃvel de decibéis.
Aqui são quatro. Mas ainda não são 22h. Antes há Guapo e Todd, ambos surpresas muito apreciadas, por razões completamente opostas. Guapo, uma das melhores bandas progressivas da actualidade, fazem jus à reputação que têm. Canções longas, melódicas, progressivas sem serem tradicionais, compõem um repertório fresco e interessante. Todd são o outro extremo da paz dos Guapo. Actuam sem terem palco fÃsico, só os elementos da banda e o público. Às primeiras pancadas da bateria era óbvio para onde o som seguiria. Power violence feito em Londres, com um fabuloso vocalista que combate consigo mesmo, combate com membros do público (claramente conhecidos, mas ainda assim...), que abandona o concerto para ir buscar cerveja, volta a combater com o público e grita, grita muito. Contudo, Todd foram chatos. A música não estava à altura da performance do vocalista.
E são 22h. Do nada, a banda aparece e toca as primeiras duas canções junto do público. Sem microfones, sem artifÃcios. Não é tanto o fim do mundo, mas sim a concretização do desespero. É isso que a música de Oxbow mostra. A percepção da finitude e o que fazer face a ela. Neste caso, a sugestão é lutar. Eugene escreve para revistas de ultimate fighting e tem o seu programa de rádio sobre o género. É um especialista. Chegada a altura do encore, Niko aceita pedidos. A monumental "3 O'Clock" é claramente a mais requisitada, mas há outras vozes a serem levantadas. Eugene sugere que haja uma luta entre quem quer uma coisa e quem quer outra.
O fÃsico marca uma grande presença nos concertos de Oxbow, graças a Eugene Robinson. Uma montanha em palco, um demónio que insiste em tirar a roupa que tem vestida (por norma um fato preto), Eugene transpira, cospe, masturba-se. E o público está lá para ver e para sentir. O combate é este. Não é o ser ovelha para um pastor como noutros casos, mas o dar a cara para receber um soco se chegar a isso e usar isso como desculpa para responder. A exibição é total e eles sabem disso. No meio de tudo, a forma como o vocalista se dirige ao público é digna de nota. A facilidade das palavras, a higiene dos termos e, acima de tudo, a educação polida que é demonstrada. Parece ser respeito, mas será possÃvel acreditar nisso?
De ouvidos tapados por fita-cola, Eugene expulsa as suas letras de dentro de si. "Fuck me? FUCK ME?" Sexo, suor, sangue, esperma, sujidade. Isto é primordial, isto é a origem do animal e a sua resposta ao ver-se enjaulado. O fim está sempre próximo. O começo nunca esteve longe. O destino não existe e a vida é fodida. O amor está morto, urra Robinson. Pois está. Ele matou-o e agora quer comê-lo por trás.
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Oxbow © Tiago Dias |
A sala é o esperado. Da última vez que visitámos os Corsica Studios foi para ver Sunn 0))) e experienciou-se algo de religioso. Cerca de um ano depois, o espaço está igual. Panos pretos cobrem as paredes e o tecto, dando um ar provisório à sala. Como se estivéssemos numa tenda que se vai desmoronar durante ou após o concerto. Não está tão cheio como para o duo de Stephen O'Malley e Greg Anderson. O tipo de público não é muito diferente.
Oxbow entram em palco à s 22h, indicam os sinais à entrada. Só isso importa, mas há mais dois nomes - inesperados - no cartaz. Pouco importariam em circunstâncias normais, mas esta noite é um crescendo, em estilo de requiem clássico e a abertura impõe uma responsabilidade superior. Talvez haja exagero nestas palavras, mas Oxbow não são uma banda qualquer. A última vez que o Bodyspace os viu em concerto, eram um duo acústico, só Eugene Robinson na voz e Niko Wenner à guitarra. Estavam a abrir para Isis e foram, de longe, o ponto alto da noite. Intensidade (a palavra-chave e a mais repetida nas definições aplicadas à banda) não se faz com peso, nem nÃvel de decibéis.
Aqui são quatro. Mas ainda não são 22h. Antes há Guapo e Todd, ambos surpresas muito apreciadas, por razões completamente opostas. Guapo, uma das melhores bandas progressivas da actualidade, fazem jus à reputação que têm. Canções longas, melódicas, progressivas sem serem tradicionais, compõem um repertório fresco e interessante. Todd são o outro extremo da paz dos Guapo. Actuam sem terem palco fÃsico, só os elementos da banda e o público. Às primeiras pancadas da bateria era óbvio para onde o som seguiria. Power violence feito em Londres, com um fabuloso vocalista que combate consigo mesmo, combate com membros do público (claramente conhecidos, mas ainda assim...), que abandona o concerto para ir buscar cerveja, volta a combater com o público e grita, grita muito. Contudo, Todd foram chatos. A música não estava à altura da performance do vocalista.
E são 22h. Do nada, a banda aparece e toca as primeiras duas canções junto do público. Sem microfones, sem artifÃcios. Não é tanto o fim do mundo, mas sim a concretização do desespero. É isso que a música de Oxbow mostra. A percepção da finitude e o que fazer face a ela. Neste caso, a sugestão é lutar. Eugene escreve para revistas de ultimate fighting e tem o seu programa de rádio sobre o género. É um especialista. Chegada a altura do encore, Niko aceita pedidos. A monumental "3 O'Clock" é claramente a mais requisitada, mas há outras vozes a serem levantadas. Eugene sugere que haja uma luta entre quem quer uma coisa e quem quer outra.
O fÃsico marca uma grande presença nos concertos de Oxbow, graças a Eugene Robinson. Uma montanha em palco, um demónio que insiste em tirar a roupa que tem vestida (por norma um fato preto), Eugene transpira, cospe, masturba-se. E o público está lá para ver e para sentir. O combate é este. Não é o ser ovelha para um pastor como noutros casos, mas o dar a cara para receber um soco se chegar a isso e usar isso como desculpa para responder. A exibição é total e eles sabem disso. No meio de tudo, a forma como o vocalista se dirige ao público é digna de nota. A facilidade das palavras, a higiene dos termos e, acima de tudo, a educação polida que é demonstrada. Parece ser respeito, mas será possÃvel acreditar nisso?
De ouvidos tapados por fita-cola, Eugene expulsa as suas letras de dentro de si. "Fuck me? FUCK ME?" Sexo, suor, sangue, esperma, sujidade. Isto é primordial, isto é a origem do animal e a sua resposta ao ver-se enjaulado. O fim está sempre próximo. O começo nunca esteve longe. O destino não existe e a vida é fodida. O amor está morto, urra Robinson. Pois está. Ele matou-o e agora quer comê-lo por trás.
· 14 Nov 2009 · 11:55 ·
Tiago Diastdiasferreira@gmail.com
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