Guiné All stars / Konono nº 1 / Sun Araw / Pocahaunted
Museu História Natural / Galeria Zé dos Bois, Lisboa
04 Jul 2009
Recém-chegada à adolescência, a galeria Zé dos Bois, tem vindo a revitalizar todo o panorama cultural do País. Situado em pleno coração lisboeta, a Zê (como é carinhosamente apelidada) tem marcado de forma indelével as vivências da capital, tendo-lhe injectado toda uma nova vida, sem a qual hoje seria quase impensável imaginar a cidade. Com uma noção de risco sempre presente e apostando numa diversidade extremamente salutar, o papel de esteta da galeria ao longo deste 15 anos é hoje uma realidade que é impossível negar. E que merece ser celebrada.
Celebração essa, ao qual o público aderiu, num panorama bonito de convivência entre habituées e uma quantidade algo anómala (mas extremamente bem vinda) de crianças. Celebrar o passado e construir o futuro. Optando por estrutura diferente, a festa estava programada para o espaço exterior do Museu de História Natural, no entanto, e devido a motivos alheios à organização, o esquema previsto teve de ser alterado, sendo os concertos divididos entre esse mesmo local durante a passagem da tarde para a noite, e o já habitual espaço na Rua da Barroca a partir da meia noite.
Escolha mais do que certeira para a abertura das hostilidades, os Guiné Allstars incutiram desde logo as boas vibrações que pautaram todo o evento. Formado por ilustres membros da comunidade guineense a residir em Portugal (como Kimi Djabaté ou Maio Coupé), cuja presença tem sido regular ao longo dos anos na ZDB, este ensemble propôs uma viagem pelos caminhos do gumbé e da griot do país de origem, numa demonstração da vitalidade da(s) música(s) africana(s). Com um ambiente permeado de tranquilidade, arriscaram os primeiros passos de dança (mudando frequentemente de vocalista) numa toada descontraída e festiva, coadjuvante com toda a envolvência do espaço.
A dança sugerida, deu então lugar à euforia colectiva com a chegada dos congoleses Konono nº 1. Verdadeira máquina imparável de fazer dançar, o projecto formado por Mawangu Mingiedi, exorcizou demónios e levou à dança comunal. Alicerçada numa secção rítmica contínua e no som hipnótico dos seus três likembes amplificados, a festa dos Konono nº 1 foi um exemplo vivo de verdadeira comunicação primordial entre artista e público. Sem cedências, a electrizante (real e figurada) descarga polirítmica regenerou a alma enquanto o corpo de entregava ao abandono, de um modo tão enfático que nem o som relativamente baixo (compreensível tendo em conta a zona circundante ao Museu) conseguiu abrandar.
A boa onda das vibrações africanas daria então lugar horas mais tarde às linguagens libertadoras vindas do subterfúgio norte-americano. Com o espaço da galeria extremamente composto, mas, ainda assim respirável (ao contrário de outras noites de grande afluência), Cameron Stallones conduziu os Sun Araw para terrenos mais abertamente psicotrópicos. Com um alinhamento assente no seu último álbum (Heavy Deeds), Sun Araw começou por se espraiar em deambulações revestidas a wha-wha e cadência dub para desembocar no melhor momento da actuação com “All Night Long”. Longa trip de órgão e guitarra em paraísos artificiais, servidas por vozes esparsas a atirar para a imensidão. Depois destes dois belos exemplos de psicadelismo tropical, o concertou foi definhando em fórmulas tipificadas, devedoras da expansividade de algum rock setentas, mas sem aquela força vital que os separe de uma mediania conformista.
Se a actuação dos Sun Araw, insinuou um caminho em direcção a formatos estanques, o concerto de Pocahaunted sedimentou nesse mesmo marasmo. Mesmo que seja inegável algum apreço pelo groove instalado, pouco haverá a reter deste concerto além do facto de se tratar de uma eficiente jam band. Sem qualquer traço identificativo com o som da banda antes da saída da co-fundadora Bethany, os Pocahaunted assemelharam-se em demasia ao divertimento inconsequente dos Vibes (projecto paralelo onde pontificam alguns dos elementos presentes nesta noite), incapaz de elevar o quinteto a paisagens mais arriscadas e interessantes. Foram encadeando momentos inconsequentes sem os levar a lado algum, permanecendo nessa mesma atmosfera de prazenteira inocuidade. Se o futuro dos Pocahaunted passar por aqui, toda a relevância que o colectivo tem vindo a assimilar gradualmente ao longo dos anos cairá, inevitavelmente, por terra.
Celebração essa, ao qual o público aderiu, num panorama bonito de convivência entre habituées e uma quantidade algo anómala (mas extremamente bem vinda) de crianças. Celebrar o passado e construir o futuro. Optando por estrutura diferente, a festa estava programada para o espaço exterior do Museu de História Natural, no entanto, e devido a motivos alheios à organização, o esquema previsto teve de ser alterado, sendo os concertos divididos entre esse mesmo local durante a passagem da tarde para a noite, e o já habitual espaço na Rua da Barroca a partir da meia noite.
Escolha mais do que certeira para a abertura das hostilidades, os Guiné Allstars incutiram desde logo as boas vibrações que pautaram todo o evento. Formado por ilustres membros da comunidade guineense a residir em Portugal (como Kimi Djabaté ou Maio Coupé), cuja presença tem sido regular ao longo dos anos na ZDB, este ensemble propôs uma viagem pelos caminhos do gumbé e da griot do país de origem, numa demonstração da vitalidade da(s) música(s) africana(s). Com um ambiente permeado de tranquilidade, arriscaram os primeiros passos de dança (mudando frequentemente de vocalista) numa toada descontraída e festiva, coadjuvante com toda a envolvência do espaço.
A dança sugerida, deu então lugar à euforia colectiva com a chegada dos congoleses Konono nº 1. Verdadeira máquina imparável de fazer dançar, o projecto formado por Mawangu Mingiedi, exorcizou demónios e levou à dança comunal. Alicerçada numa secção rítmica contínua e no som hipnótico dos seus três likembes amplificados, a festa dos Konono nº 1 foi um exemplo vivo de verdadeira comunicação primordial entre artista e público. Sem cedências, a electrizante (real e figurada) descarga polirítmica regenerou a alma enquanto o corpo de entregava ao abandono, de um modo tão enfático que nem o som relativamente baixo (compreensível tendo em conta a zona circundante ao Museu) conseguiu abrandar.
A boa onda das vibrações africanas daria então lugar horas mais tarde às linguagens libertadoras vindas do subterfúgio norte-americano. Com o espaço da galeria extremamente composto, mas, ainda assim respirável (ao contrário de outras noites de grande afluência), Cameron Stallones conduziu os Sun Araw para terrenos mais abertamente psicotrópicos. Com um alinhamento assente no seu último álbum (Heavy Deeds), Sun Araw começou por se espraiar em deambulações revestidas a wha-wha e cadência dub para desembocar no melhor momento da actuação com “All Night Long”. Longa trip de órgão e guitarra em paraísos artificiais, servidas por vozes esparsas a atirar para a imensidão. Depois destes dois belos exemplos de psicadelismo tropical, o concertou foi definhando em fórmulas tipificadas, devedoras da expansividade de algum rock setentas, mas sem aquela força vital que os separe de uma mediania conformista.
Se a actuação dos Sun Araw, insinuou um caminho em direcção a formatos estanques, o concerto de Pocahaunted sedimentou nesse mesmo marasmo. Mesmo que seja inegável algum apreço pelo groove instalado, pouco haverá a reter deste concerto além do facto de se tratar de uma eficiente jam band. Sem qualquer traço identificativo com o som da banda antes da saída da co-fundadora Bethany, os Pocahaunted assemelharam-se em demasia ao divertimento inconsequente dos Vibes (projecto paralelo onde pontificam alguns dos elementos presentes nesta noite), incapaz de elevar o quinteto a paisagens mais arriscadas e interessantes. Foram encadeando momentos inconsequentes sem os levar a lado algum, permanecendo nessa mesma atmosfera de prazenteira inocuidade. Se o futuro dos Pocahaunted passar por aqui, toda a relevância que o colectivo tem vindo a assimilar gradualmente ao longo dos anos cairá, inevitavelmente, por terra.
· 06 Jul 2009 · 20:02 ·
Bruno Silvacelasdeathsquad@gmail.com
ÚLTIMAS REPORTAGENS

ÚLTIMAS