Lydia Lunch - Festival TÃmpano
Casa das Artes, Famalicão
22 Mai 2005
Miss Lydia. Todos nós sabemos que não há nenhuma mulher assim, todos nós sabemos que não há nenhum homem assim. Em Famalicão, era dia de confronto de titãs: num lado, a coxa dourada de Ivete Sangalo e um estádio com - diz-se - mais de vinte mil pessoas; no outro, Miss Lydia Lunch, a mulher que refuta tudo aquilo que a brasileira representa. Mas Miss Lydia já não tem de provar nada; os tempos nos Teenage Jesus & the Jerks, uma carreira a solo de mais de vinte anos, as participações com nomes essenciais da música (Nick Cave, os Birthday Party, Thurston Moore, Michael Gira, Einstürzende Neubauten, entre outros) e as inúmeras áreas (cinema, fotografia, instalações) que a sua arte aborda falam por si. Os discos em seu nome são muitos (o primeiro foi Queen of Siam), mas apostava-se em Smoke in the Shadows - aquele que é provavelmente um dos mais subvalorizados do ano transacto – como uma das passagens obrigatórias da actuação. E assim foi. Até porque – há quem o diga - Smoke in the Shadows é provavelmente o melhor disco de Lydia Lunch desde Queen of Siam. E talvez não seja exagero nenhum.
E foi precisamente com a faixa que abre Smoke in the Shadows que o concerto de Miss Lydia deu inicio. “Hangover Hotel†é Lydia Lunch em modo spoken word, evocando as ruas e a noite, os becos, as vielas, o crime, as sirenes, o sangue, os homens disfarçados, os detectives, o álcool: “The scene of the crime could be anywhere, at anytimeâ€. Mas não está sozinha em palco, pois a banda que a acompanha actualmente consiste em percussão, guitarra e instrumentos de sopro – o resto é uma lição estudada em casa, uma base programada de onde partem todas as canções. Não demorou muito até que “Smoke in the Shadows†surgisse com a sua esfera de mistério, de sedução, escuridão, de fumo, de efemeridade. “Smoke in the Shadows†é mesmo o melhor tema de errrr, Smoke in the Shadows.
Junte-se então a tudo isto ambiências jazz, a sensação cabaré que por vezes incendeia alguns temas e as mensagens sempre provocatórias de Miss Lydia. A sua mensagem já é sobejamente conhecida: a posição antiguerra, a atitude anti-Bush, a culpabilização do H/homem. É por isso de todo natural que no meio de algumas investidas de spoken word - mais ou menos improvisadas – surjam frases como “the war is just a fucking orgy of blood and gutsâ€, chamadas de atenção para o facto de que ninguém está seguro (enquanto o dizia, apontava para um ou outro membro da plateia), provocações à senhora da coxa vinda do Brasil, e irónicas alusões à s canções felizes. O apelo de Miss Lydia é para a consciencialização geral, de um conjunto de circunstâncias que parecem passar ao lado de muita gente. Avisou que as mulheres e as crianças são as primeiras baixas da guerra, que a televisão (a CNN) só mostra os militares e esconde as mulheres que morrem de fome. Apelou (ainda) à emancipação da mulher, quanto mais não seja pela recusa do prazer ao homem. Por tudo isto, não é nada estranho que o último tema tenha sido precisamente “Hot Tipâ€, orgulhoso veÃculo de uma mensagem bem ao jeito de Miss Lydia: “To me, every man is the wrong manâ€. Por entre aplausos, despediu-se com um sempre bem-vindo “I do love your countryâ€
Mas a actuação não havia de ficar por ali. Os músicos que acompanham Miss Lydia (os três) foram voltando um a um, enveredando por assaltos solistas. A entrada de Lydia Lunch em palco reuniu de novo todos os presentes no palco para uma versão inesperada de tonalidades jazz para “The End†dos Doors. Oportuno, não? Mas ainda mais surpreendente. É provável que seja um cliché, mas nestes casos é de todo normal que as palavras façam o momento: “This is the end / Beautiful friend / This is the end / My only friend, the endâ€. Mas Lydia Lunch é bastante mais do que música, mais do que palavras. E basta um par de minutos na sua presença para que se perceba isso mesmo.
E foi precisamente com a faixa que abre Smoke in the Shadows que o concerto de Miss Lydia deu inicio. “Hangover Hotel†é Lydia Lunch em modo spoken word, evocando as ruas e a noite, os becos, as vielas, o crime, as sirenes, o sangue, os homens disfarçados, os detectives, o álcool: “The scene of the crime could be anywhere, at anytimeâ€. Mas não está sozinha em palco, pois a banda que a acompanha actualmente consiste em percussão, guitarra e instrumentos de sopro – o resto é uma lição estudada em casa, uma base programada de onde partem todas as canções. Não demorou muito até que “Smoke in the Shadows†surgisse com a sua esfera de mistério, de sedução, escuridão, de fumo, de efemeridade. “Smoke in the Shadows†é mesmo o melhor tema de errrr, Smoke in the Shadows.
Junte-se então a tudo isto ambiências jazz, a sensação cabaré que por vezes incendeia alguns temas e as mensagens sempre provocatórias de Miss Lydia. A sua mensagem já é sobejamente conhecida: a posição antiguerra, a atitude anti-Bush, a culpabilização do H/homem. É por isso de todo natural que no meio de algumas investidas de spoken word - mais ou menos improvisadas – surjam frases como “the war is just a fucking orgy of blood and gutsâ€, chamadas de atenção para o facto de que ninguém está seguro (enquanto o dizia, apontava para um ou outro membro da plateia), provocações à senhora da coxa vinda do Brasil, e irónicas alusões à s canções felizes. O apelo de Miss Lydia é para a consciencialização geral, de um conjunto de circunstâncias que parecem passar ao lado de muita gente. Avisou que as mulheres e as crianças são as primeiras baixas da guerra, que a televisão (a CNN) só mostra os militares e esconde as mulheres que morrem de fome. Apelou (ainda) à emancipação da mulher, quanto mais não seja pela recusa do prazer ao homem. Por tudo isto, não é nada estranho que o último tema tenha sido precisamente “Hot Tipâ€, orgulhoso veÃculo de uma mensagem bem ao jeito de Miss Lydia: “To me, every man is the wrong manâ€. Por entre aplausos, despediu-se com um sempre bem-vindo “I do love your countryâ€
Mas a actuação não havia de ficar por ali. Os músicos que acompanham Miss Lydia (os três) foram voltando um a um, enveredando por assaltos solistas. A entrada de Lydia Lunch em palco reuniu de novo todos os presentes no palco para uma versão inesperada de tonalidades jazz para “The End†dos Doors. Oportuno, não? Mas ainda mais surpreendente. É provável que seja um cliché, mas nestes casos é de todo normal que as palavras façam o momento: “This is the end / Beautiful friend / This is the end / My only friend, the endâ€. Mas Lydia Lunch é bastante mais do que música, mais do que palavras. E basta um par de minutos na sua presença para que se perceba isso mesmo.
· 22 Mai 2005 · 08:00 ·
André Gomesandregomes@bodyspace.net
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