No Age / Lucky Dragons
Galeria Zé dos Bois, Lisboa
23 Out 2008
Ao contrário das suas músicas, onde o pico de energia é atingido logo aos primeiros 3 segundos, permanecendo o resto da música nesse mesmo nível, o concerto dos No Age no aquário da Galeria Zé Dos Bois foi uma aventura em crescendo, que resultou numa noite deveras recompensadora para quem acompanha a abertura da nova temporada da carismática sala de espectáculos lisboeta.

Composta por somente dois membros, Dean Spunt na voz e bateria, e Randy Randall na guitarra, os No Age poderão constituír um equivalente lo-fi/revivalismo-hardcore/indie-rock ao maior respeito pelos cânones blues ou garage de bandas como The White Stripes ou The Black Keys. Mas usar simplesmente o nome das bandas de dois elementos para definir o som dos californianos seria um acto preguiçoso. Mais correcto será, talvez, pensar nas canções compostas por Jason Lowenstein para os Sebadoh, onde a melodia certeira era armadilhada com riffs de impacto físico imediato, e distorção de filiação na escola do punk e hardcore que floresceram nos Estados Unidos na primeira metade da década de 80. Assim, uma canção dos No Age é uma viagem de geralmente curta duração, em que a voz, a guitarra e os ritmos servem mutuamente de propulsores, descartando a necessidade de refrões óbvios, estimulando a adrenalina até ao momento de paragem na próxima estação.

No entanto, há que admitir que o começo deste concerto, que teve a curta duração de 50 minutos, ameaçava uma noite aquém das expectativas. As longas pausas entre músicas não favoreciam a energização do público, e o ânimo vindo do palco não parecia igualmente o melhor, gerando o perigo de um ciclo vicioso. Felizmente para o público que encheu a sala (sem felizmente torná-la irrespirável – nota positiva para a gerência), a dado momento Randall e Spunt não só ofereceram um prémio ao primeiro que fizesse “crowd-surfing”, como também pareceram deixar que a energia da sua música tomasse conta das suas vozes e corpos. A partir daí a entrega da banda encontrou correspondência na do público e vice-versa, e tal simbiose não deixou mais a sala, prosseguindo até um encore com uma versão de “Night Of The Living Dead” dos Misfits, e uma “Everybody’s Down” cantada pelo público, com Randy Randall em cima de uma cadeira, no meio da assistência, ou ele próprio em “crowd-surfing” sem nunca parar de tocar. Com o Outono em acção, os No Age presentearam Lisboa com uma forma simples mas infalível de estimular corpos e cordas vocais, recorrendo às melhores matérias-primas. Que a sua máquina continue tão inspirada como até aqui.

Os dois Lucky Dragons, que tocaram 30 minutos na abertura, tiveram um momento inicial de quase free-folk aguçado e ruidoso, e um final com um ritmo forte marcado no baixo e prato, a enquadrar uma longa sequência de electrónica decorativa/surreal que perdeu o encanto com o excesso de repetição. Nota curiosa para a projecção que acompanhou esta parte, em que a escatologia ganhou tons roxos e amarelos.
· 24 Out 2008 · 16:10 ·
Nuno Proença
nunoproenca@gmail.com
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