Vetiver / Hola a Todo El Mundo
Passos Manuel, Porto
13 Jun 2008
A carreira dos Vetiver (que se iniciou com um álbum homónimo, em 2004) foi desde cedo ligada ao movimento (?) New Weird America, muito por culpa da associação com Devendra Bahnhart, que toca regularmente com o grupo e lhe tece os mais rasgados elogios. A ideia tem-se vindo a esbater e o concerto no Porto foi uma prova eloquente do facto: em palco esteve um colectivo coeso, de quatro elementos, liderado por Andy Cabic, e que navegou por territórios folk, alt-country e até blues. O campeonato dos Vetiver parece ser cada vez mais o dos Calexico ou Lambchop e muito menos o de Banhart, Six Organs of Admittance ou Animal Collective. Porém, uma coisa é certa: esta é uma banda de Primeira Liga.

A grande novidade do concerto foi a inclusão de quatro músicas inéditas, que devem ser incluídas no próximo álbum de originais. A amostra promete, com destaque para “Another reason to go”, suportada por um riff quase reggae de Andy Cabic e com uma abordagem assumidamente mais pop. Do lado oposto, “Wishing well”, de matriz rock & rolleira pareceu ser o tema mais fraco. As canções do último álbum dos Vetiver, Thing Of The Past (composto por covers de alguns dos artistas favoritos de Cabic), estiveram quase arredadas do espectáculo: “I must be in a good place now” e “Blue driver” foram as excepções. No entanto, houve espaço para “Save me a place”, um simples e melódico clássico dos Fleetwood Mac.

De resto, o alinhamento incluiu muitas das músicas de To Find Me Gone, o mais bem conseguido e homogéneo disco dos Vetiver. Com a voz de Cabic a funcionar como eixo, os restantes elementos da banda demonstraram que se entendem por sinais de fumo e que conseguem dar corpo às canções sem entrar em divagações ou solos desnecessários. Ainda assim, quando foi preciso meter mais nervo, como em “You may be blue”, o comportamento também foi irrepreensível. Cada vez mais longe do freak-folk e mais perto da americana, assim vão (e muito bem) os Vetiver.

Na primeira parte, actuaram os Hola a Todo El Mundo, uma banda espanhola constituída por jovens de aspecto mais ou menos hippie e postura ingénua. Em palco, tentaram reproduzir uma espécie de New Weird España cantada em inglês: música de raízes folk, com recurso a vários instrumentos (acordeão, cavaquinho, violino, muitos sininhos), e uma vontade enorme de criar momentos épicos, à la Arcade Fire. É inegável que há algumas boas ideias, mas os Hola a Todo El Mundo necessitam de trabalhar muito em algumas das composições (demasiado dispersas) e de melhorar a sua performance, nomeadamente no que diz respeito às harmonias vocais.
· 13 Jun 2008 · 08:00 ·
João Pedro Barros
joaopedrobarros@bodyspace.net
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