Clubbing
Casa da Música, Porto
03 Mai 2008
Depois de Abril de águas mil, Maio fez-se maduro para receber aquela que é uma das bandas mais importantes das últimas décadas. Com novo disco editado, de uma das – muitas – formas mais recentes de se fazer a coisa (com o apoio monetário directo dos fãs), a vontade era renovada de assistir a um concertos dos Einstürzende Neubauten. O Clubbing Optimus (cada vez mais cheio, cada vez mais procurado) fez a gracinha e trouxe a banda liderada Blixa Bargeld aos palcos da Casa da Música para aquele que foi o primeiro concerto dos germânicos no Porto. A casa estava cheia, evidentemente, que o Clubbing não se contenta com menos do que isso.

Alles Wieder Offen, o último álbum dos Einstürzende Neubauten havia de ser a principal atracção da noite. Foi a contar com este, e com alguns momentos do passado, que o concerto se fez; e fez-se com nota muito positiva. O cenário poderá não ser já tão dantesco como noutros tempos, mas os rastos de industrialismo continuam por lá. Há máquinas em palco e metal, elementos estranhos aos palcos e ainda um candeeiro em cima de cada uma das cabeças. E foi assim que os Einstürzende Neubauten foram apresentando canções após canção, com a coerência absurda a que nos habituaram. “Die Wellen” foi-se construindo lentamente para implodir no fim depois de já não conseguir conter dentro de si tanta tensão; “Nagorny Karabach” impôs-se na sua quietude, na sua estranheza e beleza de contornos raros; “Weil Weil Weil” deixou marcas na repetição e intuito maquinal.

Mas foi em canções como “Ich Hatte Ein Wort”, e sobretudo em “Von Wegen”, que os Einstürzende Neubauten mais perto estiveram da perfeição. É espantoso como tanta beleza pode brotar do mais imprevisível dos recantos, como se constroem canções da destruição, como se resgata luz ao mais ermo dos locais. Há um rasgo de esperança em grande parte das canções dos Einstürzende Neubauten – ainda que não seja muito aparente. Blixa Bargeld, sempre muito bem-humorado, pareceu confirmar essa ideia, e raramente perdeu a oportunidade de entrar em contacto com o público, para descrever o contexto de uma canção ou simplesmente brincar um pouco - uma verdadeira surpresa. Ficou também na memória as explosões, no palco e no público, provocadas pela excitante “Let's do it a Dada”; um dos momentos altos de uma actuação memorável – com certeza digna de posição elevada nos melhores do ano.

Antes dos Einstürzende Neubauten actuaram os dinamarqueses Stol, autores de uma actuação que esteve sempre muito longe de merecer aquele palco – e aquela primeira parte. A voz lembrou David Bowie, o resto alguma pop electrónica menos luminosa de outras décadas, mas foi tudo entregue de uma forma totalmente desprovida de originalidade. Por vezes, a actuação dos Stol chegou mesmo a ser constrangedora, tal o conteúdo de algumas letras, a pose, algumas opções estéticas e a reacção do público, que permaneceu quase sempre indiferente ao que se estava a passar em palco – e com razão. A passagem dos Stol não deixou saudades.
· 03 Mai 2008 · 08:00 ·
André Gomes
andregomes@bodyspace.net

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