Chick Corea
Centro Cultural de Belém, Lisboa
20 Out 2007
Neste fim-de-semana Lisboa foi invadida por jazz, recebendo duas das suas maiores figuras mundiais. Depois da passagem do saxofonista Joe Lovano pela Aula Magna, na noite se sexta-feira, no sábado foi a vez do pianista Chick Corea se apresentar no grande auditório do CCB. Tal como no concerto de Lovano, a lotação do CCB não esgotou, apesar da sala bem composta. Antes de começar a tocar, Corea explicou que teve problemas com o voo e que havia chegado a Lisboa apenas há uma hora atrás.
Apesar dos problemas com a viagem, Chick Corea começou a improvisar num tema que ganhou a forma de medley, que incluiu standards como “Darn That Dream” e até Monk. Num discurso fluído e inspirado, Corea mostrou desde logo que o cansaço da viagem não lhe entorpeceu o talento. De seguida Corea referiu a sua colaboração com o contrabaixista Eddie Gomez, parceiro de Bill Evans, para justificar a escolha do tema seguinte: “Waltz for Debby”. Nas mãos de Corea a composição de Evans teve um tratamento diferente, naturalmente, mas a sua beleza melodia original manteve-se inalterável.
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Chick Corea © Ana Pinho |
Descontraído e bem disposto, neste espectáculo reencontramos Chick Corea a solo com o seu piano, desprovido de acessórios - muitas vezes dispensáveis, senão mesmo prejudiciais. E num registo sóbrio, classicista, afastado de tentações exóticas menos recomendáveis. Depois de um intervalo (originalmente não previsto) o pianista, que colaborou com Miles Davis, Anthony Braxton e deixou o seu próprio nome na história do jazz, regressou para uma segunda parte distinta da anterior.
Nessa segunda metade, Corea apresentou unicamente uma longa sequência de cerca de peças originais, escritas nos anos ’70, uma versão musical daquilo que designou de “retratos do espírito das crianças”. Se alguns desses temas se aproximavam de simples esquiços, o pianista tratou também de explorar algumas dessas composições de forma exemplar, improvisando com arte rendilhada a lirismo.
Apesar de notoriamente cansado, regressou para um muito pedido encore, em que contou com a colaboração do público (os espectadores formaram momentaneamente o “Lisbon Choir”, como Corea na hora baptizou) que acompanhou a música saída do piano. Foi um final divertido para um concerto que mostrou Corea no melhor registo, tendo apenas faltando que o pianista estivesse em melhores condições.
· 20 Out 2007 · 08:00 ·
Nuno Catarinonunocatarino@gmail.com
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