Nina Nastasia
Café Concerto Casa das Artes, Famalicão
24 Abr 2005

Depois da actuação de Nina Nastasia na Galeria Zé dos Bois, em Lisboa, a própria confessava-me a vontade de visitar o Porto, visitar as caves do Vinho do Porto e conhecer a cidade. Não sabemos se assim aconteceu, mas sabemos ao certo que subiu o país e que chegou à Casa das Artes de Famalicão - mais concretamente ao café-concerto que se encontrava já repleto, com pessoas sentadas no chão inclusive - com algum atraso, mas com alguns sorrisos tímidos e simpáticos em que todos haviam reparado no concerto de Lisboa. As primeiras canções mostraram - e a escolha é variada quando se tem já três discos editados - que Nina Nastasia não estava disposta a fazer um copy paste daquela que foi a primeira de duas actuações em Portugal (o Porto desta vez ficou de fora, ponto para Famalicão). Na verdade, e porque as canções assentam quase todas exclusivamente no seu savoir faire, a sua escolha pode ser decidida de um momento para o outro. O som da sua guitarra acústica é puríssimo, a forma de tocar perfeita, a voz é delicada e na maior parte das vezes portadora da melancolia que se pode ouvir nos seus discos, e o acordeonista que a acompanha (as semelhanças com o aspecto da figura incontornável que é Will Oldham são, manifestamente, pura coincidência) um perfeito complemento das suas canções – embora intervenha raras vezes. Ao contrário daquilo que era de prever (até pelas entrevistas que concedeu para a antecipação dos concertos em Portugal), o violino não marcou presença nas canções de ambos os concertos. O mesmo para a percussão leve que por vezes preenche as suas canções.

© Joana Pinho

A escolha do alinhamento acabou por mostrar uma Nina Nastasia bem mais luminosa do que aquela que se viu na Galeria Zé dos Bois (pouco após ter começado a actuação de Lisboa afirmou que a partir de certo momento era sempre a descer… e assim foi). E conseguiu, apesar da sua timidez, falar mais do que havia feito no primeiro concerto. Voltou a frisar que, desde que chegou a Portugal, passou a vida a comer - principalmente peixe e até a cabeça do peixe, coisa que confessou achar impossível para ela própria. A sombria “Stormy Weather” (do recentemente reeditado Dogs, que teve a sua primeira edição na pequena Socialist Records) e a pequena mas resplandecente “All For You” (um dos temas principais de This Blackened Air, o primeiro disco editado pela Touch and Go) - provavelmente as duas melhores canções que Nina Nastasia alguma vez escreveu – surgiram no alinhamento, e já o haviam feito na Galeria Zé dos Bois (não esquecer nunca que Nina Nastasia é alvo de bastante admiração por parte de Steve Albini, que marca presença constante na produção dos seus discos). É também forte a imagem que a certa altura se instala quando Nina Nastasia diz com as palavras todas que não acredita no amor – é a sorte de se poder encarnar noutras personagens - ou não - e a sensação de resguardo que daí resulta. No final do primeiro encore abandonou o palco com outra confissão: “I’ll be sad to leave Portugal”. E a verdade é que ainda voltou para mais um encore para depois, após o final da actuação, dar alguns autógrafos aos fãs que, ou haviam trazido discos de casa, ou os haviam comprado na mini-banca instalada em cima do palco. Para concluir a festa e antecipar outra, à saída da Casa das Artes distribuíam-se cravos vermelhos às pessoas que depois se juntavam em quantidade significativa para assistir ao fogo de artifício que se iria misturar no céu com a lua. A liberdade, essa, tem e terá sempre várias formas de expressão.

© Joana Pinho
· 24 Abr 2005 · 08:00 ·
André Gomes
andregomes@bodyspace.net
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