Ana Moura / Ricardo Parreira - Um Porto de Fado
Casa da Música, Porto
11 Ago 2007
Agosto já não é o que era antigamente. Além dos chuviscos que se fizeram sentir ao final da noite na cidade do Porto, o frio que se fazia sentir na praça circundante à Casa da Música fazia com que a iniciativa, além de extremamente louvável, fosse no mínimo irónica. Se o Verão do norte do país já consegue surpreender os seus habitantes, o Verão de 2007 arrisca-se a ficar na história como um dos mais sensíveis dos últimos tempos. Apesar disso, a iniciativa Um Porto de Fado registou nada mais, nada menos do que uma casa cheia. Eram muitas as pessoas (especialmente turistas) que se amontoavam para tentar comprar bilhetes para um espectáculo com a lotação esgotada. O Porto gosta de fado.

Ricardo Parreira foi o primeiro a subir ao palco exterior da Casa da Música, em plena praça. Num concerto de homenagem ao mestre da viola Fernando Alvim, Ricardo Parreira não fez por menos: teve consigo nesta noite o próprio homenageado. O motivo é também o lançamento de um CD com assinatura de Ricardo Parreira (Nas veias de uma guitarra), na guitarra portuguesa, com temas onde Fernando Alvim tem responsabilidade mais ou menos directa. A primeira parte do concerto foi dedicada a Coimbra (com o génio Carlos Paredes em evidência) e a segunda parte foi dedicada a Lisboa. O entendimento dos músicos foi sempre óptimo nas duas viagens, mas a primeira parte do concerto, dedicada à cidade dos estudantes, foi a mais conseguida.

Quando Ana Moura e os seus músicos entraram em palco chamou primeiramente à atenção a beleza da fadista, num longo vestido preto. Depois marcou presença a sua voz, grave, séria, em bom volume, segura. Começou uma apresentação que incluiu fados tradicionais e fados musicados, mas que teve em Para além da Saudade o seu motivo principal. Na banda que a acompanhou destacou-se Ângelo Freire, na guitarra portuguesa, numa actuação quase intocável. Foi fiel acompanhante da voz de Ana Moura, verdadeira fonte de calor numa noite de frio intenso.

No alinhamento surgiram canções de Amélia Muge (“Fado da procura”)e de Fausto (considerado por Ana Moura – e bem – como um dos melhores compositores de sempre da música portuguesa). Mas o brilho do concerto esteve nos temas dos seus discos, aqueles curiosamente que mereceram mais destaque. “Sou do fado, sou fadista”, do seu primeiro disco (Guarda-me a Vida na Mão, de 2003) e “Búzios”, single do seu mais recente álbum, Para além da Saudade. Com este novo disco e com o sucesso dos seus concertos, Ana Moura junta-se definitivamente aos nomes mais importantes do novo fado. E o público reconheceu isso mesmo no final da sua actuação.
· 11 Ago 2007 · 08:00 ·
André Gomes
andregomes@bodyspace.net

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