Aimee Mann / Sean Riley & The Slowriders
Coliseu dos Recreios, Lisboa
25 Jul 2007

Aimee Mann é uma grande escritora de canções. Ponto final. Na sua estreia ao vivo em Portugal, a cantora mostrou isso mesmo, o que já é mais do que significativo. A norte-americana articula as melodias e as palavras de uma forma quase perfeita, conseguindo expor da forma mais simples os sentimentos mais complexos. O exemplo maior é a frase que despoletaria toda a história do filme Magnolia, de Paul Thomas Anderson, contida em “Deathly”: “Now that I've met you / would you object to / never seeing each other again”. Parece tão fácil que é difícil acreditar que ainda ninguém se tinha lembrado de escrever tais versos.

© Joana Beleza

Posto isto, há a dizer que Mann não acrescentou muito ao facto de ser uma das melhores cantautoras da música moderna. Demonstrou simplicidade e simpatia, mas o rótulo de “animal de palco” não lhe é aplicável. A banda que a apoiou (ora eram três, ora quatro músicos) foi competente, e não deixou de sublinhar os pormenores que são o fulcro das composições da autora (com um recurso equilibrado e discreto a pequenos elementos pré-gravados), mas o som estava longe de ser o melhor. Para os fãs de Aimee Mann (o Coliseu estaria preenchido a três quartos da sua capacidade) valeu a pena ver o “mito” ao vivo, como o atesta o aplauso final de pé da plateia, para alguma supresa da própria música. Mas a sensação que ficou foi a de que ouvir os seus álbuns em casa ou mesmo no carro, com um bom sistema de som, é mais gratificante.

De qualquer forma, Mann não terá deixado ninguém arrependido por fazer uma visita ao Coliseu. Apresentou um alinhamento equilibrado, em que deixou um cheirinho do que será o seu novo álbum (tocou dois inéditos), mas também revisitou grande parte da sua carreira, desde o primeiro disco, Whatever, até à banda sonora de Magnolia, passando por aquele que será o seu álbum mais bem conseguido, Bachelor No. 2. “Save Me”, “Driving Sideways” e “You Do” foram sem surpresa alguns dos temas mais bem recebidos.

© Joana Beleza

“Momentum”, tema do referido filme, foi interpretado pela primeira vez ao vivo(!), dando origem a um divertido momento de impasse que levou à repetição da música, desde o seu início. Alternando entre a guitarra e o baixo, Aimee Mann demonstrou um registo vocal quase perfeito, não demonstrando qualquer esforço em emular a performance registada nos discos.

Nos dois encores foram interpretadas algumas das músicas mais reclamadas pelo público, com destaque para o já clássico “Wise Up”, para além de “Red Vines”, “Humpty Dumpty” e “Deathly”. Pela recepção de que foi alvo, não é díficil imaginar que Aimee vai voltar a Portugal, até porque parece ter uma legião de fãs bem sólida por terras lusas.

A abrir, o trio conimbricense Sean Riley & The Slowriders mostrou um country-blues bem esgalhado, com vincadas raízes norte-americanas. Um projecto a rever ao vivo nas Noites Ritual Rock, em Agosto, e no disco de estreia a editar pela Norte Sul, “Farewell”, em Setembro.

· 25 Jul 2007 · 08:00 ·
João Pedro Barros
joaopedrobarros@bodyspace.net
RELACIONADO / Aimee Mann