Horace Andy / Incognito
Jardim do Casino, Estoril
19 Jul 2007
Com 56 anos bem medidos, Horace Andy necessita apenas de ser igual a si mesmo para anular a ideia fatalista de que a recta final de um concerto seu pode servir como típico início a um qualquer episódio da série Sete Palmos da Terra. O senhor em palco tem entranhados todos os atributos reggae necessários para frisar que foram visionários os Massive Attack quando, na aurora do trip-hop com Blue Lines, reconheceram em Horace Andy o porta-voz de optimismo e boas vibrações que trespassava, como luz, o filtro púrpura e frieza própria das grandes urbes inglesas. Mas o habitante de Kingston, que se fez lenda ao dar voz às produções de King Tubby e Prince Jammy, encabeça mais uma das datas do Cool Jazz Fest acompanhado pela Dub Asante Band e na condição de figura maior do reggae que tem, no seu vasto reportório, clássicos suficientes para tornar uma aparição sua numa experiência distinta da vivida nos concertos dos Massive Attack em que participa como convidado (esperamos que assim seja na próxima visita dos de Bristol a Portugal em Setembro).
Horace Andy é um pouco o avô espiritual que desejariam ter grande parte dos presentes, um ser naturalmente místico que parece ter absorvido toda aquela aura que flutua pelo ar na música de Bob Marley. O pesar da idade é inverso à leveza que se sente à celebração: Horace Andy rodopia dançante como se imerso em transe no centro de Sião, dá graças a Jah entre cada uma das passagens sem parecer uma caricatura, potencia alguma energia pow pow em “Money (Root of All Evil)”, roça o sublime com a obrigatória “Skylarking”, conduz sem egoísmo o fluir musical, permite a que cada um dos membros da Dub Asante Band possam solar a seu gosto e requisita o mais vagaroso modo dubwise (e o delay que daí resulta) quando precisa de recuperar fôlego. Quase merece que sejam adaptadas à sua imagem as palavras que um dia Seu Jorge dedicou lisonjeiramente a Hermeto Pascoal: passando Ele é música. a ler-se Ele é o reggae.. E aquele misto de vibrato e falsete que caracteriza Horace Andy pede mesmo um dueto (ou, na pior das hipóteses, um mash-up) com Devendra Banhart. Como se se poisasse num horizonte pintado por Jimmy Cliff, Horace Andy abandona o palco a dançar sem sequer se ter despedido formalmente do público. Foi essa a melhor forma de fazer perdurar o seu efeito entre quem ali se juntou a ele harmoniosamente.
Incumbidos do aquecimento, estiveram uns Incognito que, sobre a batuta do guitarrista original Bluey, fizeram os possíveis para manter acesa a chama do groove e soul, mas que se esqueceram de arriscar o mínimo que fosse num palco que se encontra de frente para o Casino do Estoril. Nem isso serviu de inspiração a uma prestação que aborreceu após ter sido ultrapassada a barreira do quarto de hora.
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Horace Andy © Mauro Mota |
Horace Andy é um pouco o avô espiritual que desejariam ter grande parte dos presentes, um ser naturalmente místico que parece ter absorvido toda aquela aura que flutua pelo ar na música de Bob Marley. O pesar da idade é inverso à leveza que se sente à celebração: Horace Andy rodopia dançante como se imerso em transe no centro de Sião, dá graças a Jah entre cada uma das passagens sem parecer uma caricatura, potencia alguma energia pow pow em “Money (Root of All Evil)”, roça o sublime com a obrigatória “Skylarking”, conduz sem egoísmo o fluir musical, permite a que cada um dos membros da Dub Asante Band possam solar a seu gosto e requisita o mais vagaroso modo dubwise (e o delay que daí resulta) quando precisa de recuperar fôlego. Quase merece que sejam adaptadas à sua imagem as palavras que um dia Seu Jorge dedicou lisonjeiramente a Hermeto Pascoal: passando Ele é música. a ler-se Ele é o reggae.. E aquele misto de vibrato e falsete que caracteriza Horace Andy pede mesmo um dueto (ou, na pior das hipóteses, um mash-up) com Devendra Banhart. Como se se poisasse num horizonte pintado por Jimmy Cliff, Horace Andy abandona o palco a dançar sem sequer se ter despedido formalmente do público. Foi essa a melhor forma de fazer perdurar o seu efeito entre quem ali se juntou a ele harmoniosamente.
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Incognito © Mauro Mota |
Incumbidos do aquecimento, estiveram uns Incognito que, sobre a batuta do guitarrista original Bluey, fizeram os possíveis para manter acesa a chama do groove e soul, mas que se esqueceram de arriscar o mínimo que fosse num palco que se encontra de frente para o Casino do Estoril. Nem isso serviu de inspiração a uma prestação que aborreceu após ter sido ultrapassada a barreira do quarto de hora.
· 19 Jul 2007 · 08:00 ·
Miguel Arséniomigarsenio@yahoo.com
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