Philip Glass
CCB, Lisboa
23 Jun 2007
Por vezes as ideias feitas são difíceis de combater. Mas essas tais ideias feitas são também quase sempre impossíveis de evitar, por isso vamos esclarecer uma questão logo neste primeiro parágrafo. Um texto sobre Philip Glass que não refira a palavra “Minimalismo” – uma das escolas que mais marcou a composição musical do século XX e que englobou debaixo do mesmo chapéu gente como Steve Reich, John Adams, Michael Nyman, LaMonte Young e Terry Reily - ficará sempre incompleto, mas o americano sempre rejeitou essa classificação. Em que ficamos? Glass considera-se um compositor que faz música com algumas estruturas repetitivas. Problema resolvido, podemos então prosseguir.

De regresso a Lisboa, o compositor americano deslocou-se ao grande auditório do CCB para uma apresentação em piano solo. As peças escutadas nos cerca de 90 minutos do programa oficial foram todas compostas no período entre 1979 e 1999, uma amplitude de vinte anos que englobou diversos estilos. Os famosos padrões repetitivos estiveram naturalmente presentes, mas a música de Glass é muito mais do que uma ideia repetida à exaustão. Resultado do enquadramento de várias ideias musicais em simultâneo, esta música tem um carácter científico (a análise de diferentes peças que utilizam os mesmo elementos) para além de uma inevitável beleza estética (a muitas vezes referida noção “pop”, razão pela qual Glass tem sido frequentemente convidado para musicar cinema).

A fechar o concerto Glass escolheu uma peça escrita em 1981, o movimento final de “Glassworks”. Já nos dois encores Glass foi repescar duas peças fora do período 79/99, “Einsten On the Beach” (1979) e ainda outra mais antiga (1971). Sem renegar a utilização de elementos repetitivos, a música que Philip Glass apresentou sozinho no CCB mostrou uma amplitude estilística alargada. Mais do que um nome fundamental do movimento minimalista, Glass mostrou que é um dos compositores (não fechado em barreiras de estilo) mais importantes do nosso tempo.
· 23 Jun 2007 · 08:00 ·
Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com
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