Jay-Jay Johanson
CCB, Lisboa
21 Jun 2007
Portugal parece fazer parte de um lote de lugares que Jay-Jay Johanson terá categorizado como "A regressar sempre que possÃvel". Com pretextos mais ou menos evidentes, é vê-lo, amiúde, entre nós. E cá o espera uma comunidade de apreciadores que não se faz rogada em recebê-lo mais uma vez. De uma só assentada, o músico sueco presenteia, desta feita, três cidades: Espinho, onde actuou ontem, Lisboa - o concerto aqui em apreço-, e Ponta Delgada, onde se apresentará amanhã. Para além da alegada simpatia pelo nosso paÃs, interessa sobretudo saber que o autor de "So Tell the Girls That I'm Back in Town" tem novo disco e prepara-se para fazer dele o prato forte da noite. The Long Term Physical Effects Are Not Yet Known é o sétimo álbum de estúdio do músico que nos tem confundido com as suas oscilações entre o trip-hop e a electrónica, entre o jazz e a pop. E foi certamente este percurso recheado de nuances que ditou o entusiasmo e a curiosidade dos que rumaram ao CCB, e a quem não foi preciso dizer duas vezes que o rapaz estava de volta à cidade.
Já perto de completar quarenta anos de idade, o músico que vemos agora em Belém conserva muito do aspecto que tinha por altura dos primeiros discos, um estilo a meio caminho entre o dandy e o schoolboy. Para trás ficou a postura andrógina que adoptara há poucos anos. Curiosamente, "On the Radio", o tema mais representativo dessa época e provavelmente o mais radiofónico da sua carreira, pertencente a Antenna, não tardou a surgir no alinhamento. Em disco, mesmo faixas como esta, afectas à synthpop contavam com uma secção de cordas relevante. Ao vivo, o caso muda de figura. Talhadas para orquestrações e algum aparato instrumental, as composições de Johanson viram-se reduzidas às prestações de três músicos. Erik Jansson, nas teclas, Johan Skugge, no baixo, e Magnus Frykberg, na bateria, foram criando algum envolvimento para a prestação do cantor, mas o recurso a pré-gravações era notório. Muitos, porém, não terão sequer desviado os olhos de Jay-Jay Johanson para reparar.
Não é fácil determinar a idade média da plateia, mais simples é constatar que o gosto da maioria assenta nos primeiros êxitos do sueco, com o álbum Whiskey à cabeça. Daà que as incursões pelo disco de estreia de Johanson fossem as mais aplaudidas e foram várias, incluindo "It Hurts Me So", "The Girl I Love is Gone", "I'm Older Now" e "So Tell the Girls That I'm Back in Town", esta última a ilustrar bem o efeito despido decorrente da escassez de recursos. Pensávamos que o músico abandonaria o palco após a interpretação desta última, que rematou adaptando o verso final para "I decided to go", mas o fecho definitivo seria outro. A escolha recaiu sobre "Suicide is Painless", a música que conhecemos da série televisiva M*A*S*H*, da autoria de Johnny Mandel e que conheceu até hoje inúmeras versões, incluindo a do músico de jazz Bill Evans e a dos britânicos Manic Street Preachers. À semelhança das passagens que Jay-Jay escreve, também a versão que traz para o seu alinhamento é um tema de versos acutilantes: Suicide is painless / It brings on many changes / And I can take or leave it if I please..
Não é especialmente a sua quota parte de entertainer que prende o público de Jay- Jay Johanson aos seus concertos. Ela também existe, mas numa escala reduzida. Revela-se, aqui, nas questões colocadas ao público de quando em vez (interroga os presentes no grande auditório se serão eventualmente os mesmos que assistiram às anteriores actuações em Lisboa) e faz revelações da sua vida particular como manobra de criação de empatia. Entre elas, manifesta a sua especial estima por Lisboa por ter sido durante um concerto nessa cidade que a sua companheira lhe revelou estar grávida. Podem ser truques de algibeira, mas foram levando a melhor sobre as falhas que decorreram durante o set. Porém, o que vai definitivamente mantendo Johanson à tona é a fragilidade e o intimismo sugeridos pela sua voz grave, que durante uma década foi sustentando um percurso cada vez mais raro na efemeridade da pop e derivados. O passar dos anos pode, ainda assim, revelar-se implacável para intérpretes da sua estirpe, casos de Lloyd Cole ou Brian Ferry, que talvez não tenham imaginado ir parar à animação de casinos.
Já perto de completar quarenta anos de idade, o músico que vemos agora em Belém conserva muito do aspecto que tinha por altura dos primeiros discos, um estilo a meio caminho entre o dandy e o schoolboy. Para trás ficou a postura andrógina que adoptara há poucos anos. Curiosamente, "On the Radio", o tema mais representativo dessa época e provavelmente o mais radiofónico da sua carreira, pertencente a Antenna, não tardou a surgir no alinhamento. Em disco, mesmo faixas como esta, afectas à synthpop contavam com uma secção de cordas relevante. Ao vivo, o caso muda de figura. Talhadas para orquestrações e algum aparato instrumental, as composições de Johanson viram-se reduzidas às prestações de três músicos. Erik Jansson, nas teclas, Johan Skugge, no baixo, e Magnus Frykberg, na bateria, foram criando algum envolvimento para a prestação do cantor, mas o recurso a pré-gravações era notório. Muitos, porém, não terão sequer desviado os olhos de Jay-Jay Johanson para reparar.
Não é fácil determinar a idade média da plateia, mais simples é constatar que o gosto da maioria assenta nos primeiros êxitos do sueco, com o álbum Whiskey à cabeça. Daà que as incursões pelo disco de estreia de Johanson fossem as mais aplaudidas e foram várias, incluindo "It Hurts Me So", "The Girl I Love is Gone", "I'm Older Now" e "So Tell the Girls That I'm Back in Town", esta última a ilustrar bem o efeito despido decorrente da escassez de recursos. Pensávamos que o músico abandonaria o palco após a interpretação desta última, que rematou adaptando o verso final para "I decided to go", mas o fecho definitivo seria outro. A escolha recaiu sobre "Suicide is Painless", a música que conhecemos da série televisiva M*A*S*H*, da autoria de Johnny Mandel e que conheceu até hoje inúmeras versões, incluindo a do músico de jazz Bill Evans e a dos britânicos Manic Street Preachers. À semelhança das passagens que Jay-Jay escreve, também a versão que traz para o seu alinhamento é um tema de versos acutilantes: Suicide is painless / It brings on many changes / And I can take or leave it if I please..
Não é especialmente a sua quota parte de entertainer que prende o público de Jay- Jay Johanson aos seus concertos. Ela também existe, mas numa escala reduzida. Revela-se, aqui, nas questões colocadas ao público de quando em vez (interroga os presentes no grande auditório se serão eventualmente os mesmos que assistiram às anteriores actuações em Lisboa) e faz revelações da sua vida particular como manobra de criação de empatia. Entre elas, manifesta a sua especial estima por Lisboa por ter sido durante um concerto nessa cidade que a sua companheira lhe revelou estar grávida. Podem ser truques de algibeira, mas foram levando a melhor sobre as falhas que decorreram durante o set. Porém, o que vai definitivamente mantendo Johanson à tona é a fragilidade e o intimismo sugeridos pela sua voz grave, que durante uma década foi sustentando um percurso cada vez mais raro na efemeridade da pop e derivados. O passar dos anos pode, ainda assim, revelar-se implacável para intérpretes da sua estirpe, casos de Lloyd Cole ou Brian Ferry, que talvez não tenham imaginado ir parar à animação de casinos.
· 21 Jun 2007 · 08:00 ·
Eugénia Azevedoeugeniaazevedo@bodyspace.net
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