Nina Nastasia
Galeria Zé dos Bois, Lisboa
22 Abr 2005

Na porta dizia em português e em inglês: “SOLD OUT, ESGOTADO”. Porta fechada. Só entrava gente com convite ou gente que tinha reservado o bilhete previamente. Gente que se esforçou para ir ver o concerto, e não só a fauna habitual do espaço. Na sala, mal se abriram as portas, o público entrou. Lá dentro, cadeiras a limitar em muito o espaço disponível. Copos. Conversas.
O concerto ia começar mesmo às 11 da noite. Eram 11 da noite. Pouco depois, entre as pessoas, uma senhora, na casa dos 30 mas parecendo ainda mais velha, pede para passar, acabando por ir se sentar no palco. Com ela, um tipo cabeludo, com um bigode farto e farfalhudo.

© Luís Bento

Às vezes surgem na imprensa informações contraditórias. Gonçalo Palma, do jornal Blitz, escrevia na edição de 19 de Abril que supostamente Nina Nastasia viria a Portugal em formato trio. Numa entrevista de João Bonifácio no Y, suplemento do jornal Público, Nina disse que a Portugal traria apenas alguém na viola e no violino, isto apenas três dias depois, no próprio dia do concerto. Curiosamente, apareceu um tipo que tocava apenas acordeão, para além de olhar com um ar estranho para Nina. A mulher que um dia gravou Dogs, disco de estreia de 1999 reeditado no ano passado, com o produtor Steve Albini, estava lá. Ela, a sua voz, a sua guitarra e o seu acompanhante no acordeão.
O que há em Nina Nastasia, para além da voz, são as canções. E uma certa graciosidade que contrasta com a sua imagem frígida, séria, quase como uma governanta alemã ou austríaca, em piadas que diz entre os temas. Lá vai ela, cantando sobre cães, pássaros, sobre como é uma superestrela ou como a heroína faz as pessoas emagrecer, dedilhando a sua guitarra. Enquanto isso, o outro tipo acompanha-a ou não a acompanha no acordeão, fazendo um olhar esquisito, uma cara anestesiada, ninguém percebe bem porquê.
Há beleza, há canções bonitas, há uma voz bonita, há uma simplicidade, e uns 40 minutos após o início do concerto há uma senhora e um tipo a sair do palco, sempre pelo público, ignorando a existência de uma saída pelo palco. As pessoas batem palmas, Nina volta ao palco, sempre no meio do público, e alguém pergunta a Nina Nastasia - que até a essa hora só bebia água - se queria cerveja ou whisky; ela decide-se pela segunda hipótese. Toca mais uns 3 temas e volta a levantar-se, pegando no whisky que entretanto ficara no chão.

© Luís Bento

Tudo em menos de uma hora. Ora, para quem pagou os 7,5€ do bilhete não deve ter sido muito bonito. Há duas hipóteses: ou o concerto foi bom e curto de uma forma justa, porque muito mais acabaria por fartar, ou o concerto soube a pouco e houve quem se sentisse injuriado.
Seja qual for a resposta, as canções e a voz continuam lá nos discos. E por escassos momentos estiveram lá na Galeria Zé dos Bois, em frente a quem os quisesse ver e ouvir.

· 22 Abr 2005 · 08:00 ·
Rodrigo Nogueira
rodrigo.nogueira@bodyspace.net
RELACIONADO / Nina Nastasia