Radio 4
Casa da Música, Porto
15 Abr 2005

Parece mentira, mas é verdade. A tão afamada Casa da Música abriu finalmente, seis anos após o início da sua construção, para gáudio dos portuenses. A ocasião é celebrada por um festival de abertura que inclui actuações de artistas como Lou Reed, os Clã, Vladislav Delay, Madrid de Los Austrias, entre outros. Apesar de o bilhete indicar que o concerto “começa impreterivelmente à hora marcada”, a verdade é que só depois da saída dos convidados especiais da inauguração – com direito a desfile pelas escadarias – e com mais de uma hora de atraso do que o previsto é que o concerto teve o seu início. Mas falemos de música. Os Radio 4 são mais um daqueles casos que se passam a descrever de seguida:

– Eh pá, já ouviste o último disco dos (inserir nome da banda aqui)? É uma valente trampa. Só se aproveita mesmo o single. Já o anterior, (inserir nome do disco aqui), era bem jeitoso.

– Não sei se concordo muito bem com isso… O primeiro disco é que era. E a (inserir nome de possível hit aqui) rocka muito. Agora os dois seguintes…

– Pois deixem-me que vos diga aos dois que eu tenho um colega meu em (inserir nome da cidade de origem da banda aqui) que até chegou a ver uns ensaios deles e que me garante que os (inserir nome da banda aqui) eram bons mas era nos primeiros dois concertos. Agora a partir do terceiro…

© Luís Clara Gomes

Enquanto que em The New Song and Dance, o álbum de estreia, e em Gotham! (disco que contava com a produção de Tim Goldsworthy e James Murphy), os Radio 4 – o próprio nome indica – recuperavam o pós-punk e a sonoridade de bandas como os Gang of Four (especialmente o fundamental Entertainment! de 1979 ), em Stealing of the Nation, os nova-iorquinos introduzem as batidas fortes, levam as suas canções para as pistas de dança e piscam o olho aos !!! do incrível Louden Up Now, mas os resultados são desastrosos. Na verdade, com a excepção de um ou outro momento, Stealing of the Nation não tem ponta por onde se lhe pegue e a crítica fez – e bem – com que os Radio 4 soubessem disso. Pretende ser um statement político mas a ver pelo resultado ninguém vai ficar o tempo suficiente para que a mensagem seja transmitida e compreendida. Por tudo isto, a escolha do alinhamento acabou por favorecer bastante os Radio 4 que foram saltando aleatoriamente entre canções de Gotham! e Stealing of a Nation, dando sempre prioridade - como é habitual, como aconteceu em Paredes de Coura - à percussão que arrancava sempre reacções exacerbadas na plateia.

© Luís Clara Gomes

“Party Crashers”, “Transmission” e “State of Alert” (canção cujo alarmante riff é sério candidato ao prémio de pior riff de sempre) cumpriram a missão traçada em Stealing of the Nation: dança desenfreada. As guitarras estilhaçadas e o baixo rude de “Our Town” (um tema de Gotham!) fizeram mossa, mas foi com o hit “Dance to the Underground” que a loucura geral se instalou realmente. E a partir daí nada mais foi igual. A confusão lá à frente era geral, e aquilo que era uma plateia dançante transformou-se num mosh pit para foliões urgentes. Até ao final, tempo para um tema novo, um curto encore, e para o contínuo elogio a Nova Iorque já anteriormente expresso em várias canções dos dois registos anteriores. Mas pelo andar da carruagem, o próximo disco dos Radio 4 pode muito bem vir a tornar-se no elogio cada vez mais profundo da decadência.

· 15 Abr 2005 · 08:00 ·
André Gomes
andregomes@bodyspace.net

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