Joanna Newsom / Alasdair Roberts
Theatro Circo, Braga
03 Mai 2007
O festim de vermelhos e dourados que é o Theatro Circo fica bem a Joanna Newsom. Com o majestoso Ys subiu a uma categoria superior à que The Milk-Eyed Mender, encaixado simplisticamente na freak folk fazia adivinhar. A história de Ys é já conhecida: Van Dyke Parks, Steve Albini e Jim O’Rourke ajudaram a criar um disco simultaneamente opulento e delicado. A vinda de Joanna a Portugal levantava a pergunta: iriam canções tão ambiciosas sobreviver em palco? O concerto em Braga respondeu afirmativamente.

Joanna Newsom © Ana Sofia Marques

Segurando a gigantesca harpa, de vestido imaculadamente branco, Newsom parecia uma adulta em corpo de criança. A acompanhá-la, uma pequena banda – baterista, violinista e tocador de mandolim e banjo – transpôs com sucesso o arrojo de Ys para palco. Nenhum tema ficou de fora - mesmo a megalómana “Only skin”, que não estava no programa, foi tocada, a pedido de um membro do público. Provou que já não é – se é que alguma vez foi – mais um nome da galáxia da folk esquisita (que muitos bons frutos tem dado, esclareça-se). Conquistou um lugar especial e merece todos os louvores arrecadados por Ys.

Joanna Newsom © Ana Sofia Marques

Começou com “Bridges and balloons”, consideravelmente diferente do original contido em The Milk-Eyed Mender. A voz de Newsom surgiu muito mais harmoniosa e consensual (mesmo mais do que em Ys) e os arranjos da banda acrescentaram uma profundidade que não existe na beleza infantil do original.

Mas foi nos temas de Ys que a grandeza de Newsom enquanto compositora se revelou. “Emily” viu o violino irromper pelo lustro encantatório (harpa e voz de pelúcia) adentro e em "Sawdust & diamonds", só com Newsom, os dedos da pequena harpista escorregaram pelas mil cordas - música que paira sobre nós, que não parece deste tempo ou realidade.

Alasdair Roberts © Ana Sofia Marques

A actuação de Newsom eclipsou ainda mais o já dispensável concerto de Alasdair Roberts. É uma espécie de Will Oldham da Escócia, mas faltou-lhe a mestria que faz do americano um nome essencial da canção folk moderna. Ora foi a voz a induzir o sono, ora o desinspirado e banal acompanhamento à guitarra.
· 03 Mai 2007 · 08:00 ·
Pedro Rios
pedrosantosrios@gmail.com
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